Uma história absurda e emocionante envolvendo uma simples banana e um imigrante de 74 anos no coração de Manhattan ganhou as manchetes internacionais após uma fruta, comprada por R$ 1,00 em uma banca de frutas, ser vendida por R$ 31 milhões em um leilão de arte.
Shah Alam, um vendedor de frutas que trabalha em frente à famosa casa de leilões Sotheby’s, nunca imaginou que uma de suas bananas se tornaria uma obra de arte de valor multimilionário. Alam, que se muda para os Estados Unidos de Bangladesh em 2007, vende frutas frescas por preços acessíveis no Upper East Side de Nova York, onde é conhecido por sua simpatia e determinação, apesar das dificuldades financeiras que enfrenta. Mas, na última quarta-feira (27), sua banana se transformou em uma peça de arte surreal que foi leiloada por nada menos que 50 milhões de dólares australianos (aproximadamente R$ 31 milhões).
O destino dessa banana começou em 2019, quando o artista italiano Maurizio Cattelan criou uma obra chamada “Comedian”, que consiste em uma banana fixada com fita adesiva em uma parede. A obra provocadora, apresentada na Art Basel de Miami Beach, foi uma sátira do mercado de arte e gerou grande debate sobre o que, de fato, pode ser considerado arte. Cattelan comprou as bananas em um supermercado e as usou como uma metáfora sobre o absurdo do sistema de avaliação da arte.
Na quarta-feira, o leilão da Sotheby’s começou com lances baixos, mas em poucos minutos, o preço da banana subiu para R$ 31 milhões, sendo comprada por Justin Sun, empresário chinês e fundador de uma plataforma de criptomoedas. A transação foi apenas uma das edições da obra, que inclui três bananas em exposição. No entanto, o momento que mais comoveu o público foi quando Shah Alam foi informado sobre o destino de sua fruta.
Ao ser informado pelo repórter que sua banana foi vendida como parte de uma instalação artística de Cattelan, Alam ficou atônito e emocionado. “Sou um homem pobre”, disse ele, com a voz embargada. “Nunca tive esse tipo de dinheiro; nunca vi esse tipo de dinheiro.” Alam, que trabalha longas horas em turnos de 12 horas e vive em condições humildes em um subúrbio de Nova York, não entendeu como uma fruta simples poderia ser vendida por tanto dinheiro.
A banana em questão foi vendida em nome de um colecionador anônimo, mas Cattelan, em declaração, expressou sua alegria com o alto valor alcançado. “O leilão transformou o que começou como uma simples declaração em Basel em um espetáculo global ainda mais absurdo”, afirmou o artista, destacando que o preço pago pela banana só reforça a reflexão que ele queria provocar sobre os valores na arte contemporânea.
Reflexão sobre valor e desigualdade
A história da banana que virou um ícone da arte contemporânea levanta questões profundas sobre o valor da arte e da vida cotidiana. Para Shah Alam, a venda de sua banana representa uma realidade dura e contrastante: enquanto ele luta para sobreviver em condições difíceis, uma simples fruta se torna uma peça cobiçada por milionários. “As pessoas que compraram isso, que tipo de gente são? Eles não sabem o que é uma banana?”, questiona Alam, indignado com a ironia da situação.
O contraste entre a simplicidade de Alam e a extravagância do mercado de arte milionário é palpável. A obra de Cattelan, ao mesmo tempo em que desafia as convenções artísticas, expõe a desigualdade e as discrepâncias no valor atribuído a diferentes aspectos da vida e da cultura. Enquanto Alam se vê preso a um ciclo de trabalho exaustivo e condições de vida precárias, um empresário de criptomoedas comemora a aquisição de uma fruta por uma quantia exorbitante.
Cattelan, por sua vez, se disse tocado pela reação de Alam e reconheceu o impacto inesperado de sua obra. “A reação do vendedor de bananas me comove profundamente, destacando como a arte pode ressoar de maneiras inesperadas e profundas”, afirmou o artista, embora tenha evitado comentar sobre a crítica social implícita na venda de sua obra.
A banana e seu legado
Para Alam, o valor da banana que ele vendeu permanece uma grande incógnita. Em sua banca de frutas no Upper East Side, ele continua a vender bananas a preços acessíveis, sem nunca ter entrado na Sotheby’s ou sequer ter tido a oportunidade de apreciar uma verdadeira obra de arte. “As pessoas que compraram isso… Eu não entendo”, diz ele, enquanto continua sua rotina de trabalho, sob a chuva e com o corpo cansado, sem imaginar que, por mais simples que seja, ele teve um papel fundamental em uma das histórias mais absurdas da arte contemporânea.
A venda da banana, agora parte do mercado de arte global, também se tornou um reflexo da desconexão entre o que é valorizado pela elite e o que é realmente significativo para aqueles que, como Alam, vivem na periferia dessa realidade.
Enquanto isso, a banana, agora propriedade de Justin Sun, continua a ser um símbolo controverso. O empresário anunciou que planeja “comer” a obra na sexta-feira, como uma forma de “celebrar” sua aquisição, uma decisão que só adiciona mais complexidade à já absurda narrativa que mistura arte, consumo e desigualdade.
Seja qual for o destino final da banana, uma coisa é certa: ela se tornou, por sua vez, um lembrete sobre o que realmente é valioso neste mundo — e o que, talvez, seja apenas uma questão de perspectiva.