O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o líder chinês, Xi Jinping, se encontrarão neste sábado (16) em Lima, no Peru, para uma reunião bilateral crucial, que será o último encontro oficial entre os dois antes da provável volta de Donald Trump à presidência dos EUA em 2025. O encontro ocorre no contexto do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), uma cúpula que reúne as principais economias da região e que, durante o governo de Trump, foi marcada por um crescente protecionismo e tensões comerciais.
A relação entre os dois países passou por momentos de grande tensão nos últimos anos, incluindo acusações de espionagem e uma guerra comercial acirrada, especialmente durante o primeiro mandato de Trump. No entanto, a reunião em Lima acontece em um momento de relativa trégua, com ambos os líderes buscando estabelecer um diálogo mais construtivo, apesar das divergências profundas. Esse encontro marca o terceiro entre Biden e Xi desde que o democrata assumiu a presidência, e é visto como uma oportunidade para consolidar os avanços nas relações bilaterais antes da possível mudança de direção política com a volta de Trump.
Relação entre EUA e China: da crise à cooperação
A relação entre os Estados Unidos e a China, as duas maiores economias do mundo, passou por uma das crises mais intensas da história recente. Durante o governo Trump, as tensões aumentaram com a imposição de tarifas pesadas sobre produtos chineses e uma retórica agressiva sobre espionagem, comércio e segurança. No entanto, após uma trégua em janeiro de 2020, quando as duas potências firmaram um acordo para suspender algumas tarifas, o relacionamento experimentou uma desaceleração nas hostilidades.
Apesar dessa melhora, o retorno de Trump à Casa Branca levanta temores de um novo ciclo de confrontos. Durante seu mandato, o republicano alimentou a guerra comercial e não hesitou em adotar medidas protecionistas, como o aumento das tarifas sobre produtos da China. O analista peruano Farid Kahhat, especialista em relações internacionais, acredita que, embora Biden tenha cumprido compromissos firmados com a China, Trump é imprevisível, o que torna as relações bilaterais mais volúveis.
“O problema com Trump é que ele se orgulha de sua imprevisibilidade”, afirma Kahhat. “Se você chega a um acordo com Biden, provavelmente ele vai cumprir. Mas com Trump, não há garantia alguma de continuidade, o que gera incertezas para as alianças internacionais.”
“Unilateralismo e protecionismo”
Em sua fala na sexta-feira (15), Xi Jinping não mencionou diretamente Trump, mas fez um alerta sobre o aumento do “unilateralismo e do protecionismo”, temas frequentemente associados à administração republicana. O líder chinês destacou que o mundo está em uma fase de “turbulência e transformação”, referindo-se ao impacto da ascensão de políticas nacionalistas e à crescente desconfiança entre as potências globais.
Uma das principais preocupações de Pequim é a ameaça de Trump de aumentar as tarifas sobre as exportações chinesas, que poderiam atingir até 60%. Durante seu primeiro mandato, Trump já havia imposto tarifas pesadas sobre produtos chineses, incluindo microprocessadores, em uma tentativa de reduzir o déficit comercial dos EUA e pressionar a China a mudar suas práticas comerciais. Essa guerra comercial ainda não terminou e pode ser intensificada com o retorno de Trump.
O futuro das alianças dos EUA no contexto do G20
Além da reunião bilateral em Lima, Biden e Xi Jinping também participarão da Cúpula do G20, que ocorrerá nos dias 18 e 19 de novembro no Rio de Janeiro, Brasil. O encontro será um dos maiores fóruns de discussão multilateral, onde líderes globais irão debater questões como mudanças climáticas, segurança, economia e saúde. A relação entre os EUA e a China será um dos pontos centrais da agenda.
Leandro Consentino, professor de Relações Internacionais, destaca que a relação EUA-China terá um impacto significativo nas negociações do G20. “A relação entre os dois países é determinante para o futuro da economia global e das alianças no G20. O retorno de Trump pode reverter ou enfraquecer os acordos que Biden busca firmar com a China, afetando a estabilidade econômica e geopolítica mundial”, afirma Consentino.
Alianças regionais e a ameaça da Coreia do Norte
Na véspera da cúpula da Apec, Biden também se encontrou com os líderes do Japão e da Coreia do Sul, com foco em fortalecer alianças para enfrentar ameaças regionais, como a crescente agressividade da Coreia do Norte. A questão da cooperação entre Pyongyang e Moscou, com apoio militar russo na guerra da Ucrânia, também foi tema de discussão.
Trump, por sua vez, já manifestou a intenção de acabar com os conflitos internacionais, como a guerra na Ucrânia, não por motivos pacifistas, mas porque acredita que os EUA não devem investir mais recursos em guerras externas. Esse posicionamento contrasta com a estratégia de Biden, que busca reforçar alianças e uma postura mais assertiva contra ameaças nucleares e o terrorismo internacional.
O que esperar para o futuro
O cenário que se desenha para as relações entre os EUA e a China, assim como para as alianças globais, será altamente influenciado pela continuidade das políticas de Biden ou pela volta de Trump ao poder. A atual administração busca uma diplomacia mais cooperativa e multilateral, ao passo que o republicanismo de Trump tende a promover uma abordagem mais isolacionista e focada nos interesses imediatos dos Estados Unidos.
Com o G20 se aproximando e com o futuro da economia global em jogo, a próxima fase das relações internacionais poderá ser decisiva para moldar o equilíbrio de poder no século XXI.