Brasília, 5 de junho de 2025 – O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) confirmou nesta quinta-feira (5) que enviou R$ 2 milhões ao filho, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que atualmente reside nos Estados Unidos. A declaração foi feita após prestar depoimento por cerca de duas horas à Polícia Federal (PF), no âmbito da investigação que apura suposta atuação do parlamentar nos EUA contra autoridades brasileiras.

De acordo com Bolsonaro, os recursos enviados têm o objetivo de garantir que Eduardo e sua família não passem “necessidade” no exterior. “Botei dinheiro na conta dele, bastante até, dinheiro limpo, legal, até PIX”, afirmou o ex-presidente durante entrevista coletiva após o depoimento.

Ele explicou que parte do dinheiro veio de doações recebidas anteriormente. “Vocês sabem que, lá atrás, eu não fiz campanha, mas foi depositado na minha conta R$ 17 milhões, e eu botei R$ 2 milhões na conta dele. Lá fora tudo é mais caro, eu tenho dois netos, um de quatro e outro de um ano de idade. Ele [Eduardo] tá lá fora, não quero que passe dificuldade”, acrescentou.

Investigação em andamento

O inquérito foi instaurado a partir de um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), que apura se Eduardo Bolsonaro buscou influenciar autoridades norte-americanas, em especial aliados do ex-presidente Donald Trump, a adotar sanções contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

A PGR vê possibilidade de que as supostas ações configurem crimes como coação no curso do processo, obstrução de investigações relacionadas a organização criminosa e tentativa de abolição violenta do Estado de Direito. Além disso, segundo o órgão, as ações poderiam ter como objetivo beneficiar diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro, que é alvo de outros inquéritos em tramitação no STF.

Depoimento e posicionamento

O depoimento de Jair Bolsonaro à PF teve início por volta das 15h e se estendeu até aproximadamente 17h, na sede da corporação em Brasília. Na saída, o ex-presidente negou que o filho esteja realizando lobby ou pressionando autoridades norte-americanas contra o Brasil. “Não existe trabalho ou lobby do Eduardo nos Estados Unidos para sancionar quem quer que seja no Brasil”, declarou.

Bolsonaro também afirmou ter “orgulho” do que Eduardo tem feito no exterior, classificando as atividades do filho como defesa da democracia.

Por que Bolsonaro foi ouvido?

A autorização para ouvir Jair Bolsonaro partiu do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no Supremo Tribunal Federal. O objetivo é esclarecer se o ex-presidente tem algum envolvimento direto nas ações atribuídas ao deputado licenciado. A decisão inclui ainda a oitiva de outras testemunhas, como diplomatas brasileiros nos Estados Unidos e parlamentares, entre eles Lindbergh Farias (PT-RJ), que solicitou apuração formal à Câmara dos Deputados.

Próximos passos

A investigação segue em andamento. A Polícia Federal deve analisar as informações obtidas no depoimento do ex-presidente e dos demais envolvidos para definir os próximos passos do inquérito. Até o momento, nem a defesa de Eduardo Bolsonaro nem a PGR se manifestaram sobre o conteúdo do depoimento prestado nesta quinta-feira.