O drama da enchente histórica que devastou a região de Valência, no leste da Espanha, teve um triste capítulo encerrado nesta quarta-feira (13), com a descoberta dos corpos de dois irmãos de 3 e 5 anos. Ruben e Izan Matias Calatayud haviam desaparecido no dia 29 de outubro, quando a força das águas arrastou sua casa, em Torrent, um subúrbio da cidade de Valência, durante a forte tempestade que atingiu a região.
Os corpos das crianças foram encontrados em locais separados, a cerca de 10 km de distância de sua residência, na área de Catarroja, conforme informou a Guarda Civil. A tragédia ocorreu enquanto o pai dos meninos, que estava em casa com eles no momento da inundação, tentou protegê-los da correnteza. De acordo com relatos de familiares, o som da água invadindo a cidade assustou as crianças, e o pai as levou para a sala de estar para tentar acalmá-las. No entanto, a água entrou pela parede e os três foram arrastados pela correnteza.
O pai, que sobreviveu ao se agarrar a uma árvore durante quatro horas antes de ser resgatado, sofreu ferimentos graves, mas a tragédia foi imensurável para a família, que esperava, sem sucesso, por notícias dos meninos. A tia das crianças, Barbara Sastre, relatou à emissora estatal TVE a angústia da família, que se viu “destruída” pela incerteza enquanto aguardava por informações.
O total de vítimas fatais da enchente já chega a 223, de acordo com o último balanço divulgado na terça-feira (12), com ainda 17 pessoas desaparecidas. Não está claro se os corpos dos meninos já foram contabilizados nesse total, mas a tragédia impactou profundamente a região, que enfrenta o pior desastre climático do século.
Destruição e caos em Valência
A tempestade que atingiu a província de Valência no final de outubro foi descrita como o pior desastre natural do século 21 na Espanha. Em apenas oito horas, choveu o volume de precipitação esperado para o ano inteiro, causando enchentes que devastaram a infraestrutura local. As ruas de vilarejos foram transformadas em rios, empilhando carros, destruindo pontes e deixando móveis e eletrodomésticos espalhados pelas ruas, cobertos por uma camada de lama.
As chuvas torrenciais causaram sérios danos a centenas de quilômetros de rodovias e linhas férreas, bloqueando o tráfego e deixando muitos moradores presos em seus carros, quando as águas subiram rapidamente. O ministro dos Transportes e da Mobilidade da Espanha, Óscar Puente, afirmou que muitos dos mortos foram vítimas dessa velocidade inesperada da água.
As autoridades mobilizaram milhares de soldados do Exército para ajudar nas operações de resgate e na limpeza das áreas afetadas. As inundações também afetaram a agricultura da região, conhecida por ser uma das maiores produtora de frutas cítricas, como laranjas, o que pode impactar as exportações espanholas.
Além das mortes e dos danos materiais, a enchente gerou um clima de desespero entre a população. Houve relatos de saques a supermercados e shoppings, com a Polícia Nacional da Espanha tendo prendido cinco pessoas acusadas de roubo em uma loja de joias em Aldaia, município na região metropolitana de Valência.
Novo alerta de tempestade
Enquanto a região ainda se recupera da tragédia, um novo alerta de tempestade foi emitido na terça-feira (12) para áreas ao longo da costa mediterrânea, incluindo Valência e Málaga, no sul da Espanha. A previsão de mais chuvas intensas trouxe novamente preocupações com possíveis novas inundações.
Os serviços de emergência realizaram evacuações em áreas de alto risco de inundação, pedindo aos moradores que se deslocassem para terrenos mais altos, enquanto as aulas foram suspensas em diversas cidades afetadas, incluindo Valência e Málaga.
Mudanças climáticas e a intensificação dos desastres naturais
A enchente histórica que devastou a região de Valência foi classificada por especialistas como um exemplo claro dos impactos das mudanças climáticas. Cientistas apontam que o aumento da temperatura do mar Mediterrâneo contribui para a intensificação dessas tempestades, tornando-as mais severas e imprevisíveis.
Enquanto as autoridades continuam a buscar os desaparecidos e a realizar operações de resgate, a tragédia serve como um lembrete sombrio da vulnerabilidade das comunidades em áreas propensas a desastres naturais, além de reforçar a urgência de políticas eficazes para enfrentar as mudanças climáticas e mitigar seus efeitos.