A recente decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas sobre a importação de aço e alumínio pode ter um impacto significativo no setor industrial brasileiro. No entanto, especialistas alertam que uma retaliação por parte do Brasil poderia resultar em perdas ainda maiores para o país.
Lucas Ferraz, coordenador do Centro de Negócios Globais da FGV e ex-secretário do Comércio Exterior do Brasil, defende que a melhor saída para a situação é buscar um caminho diplomático. Segundo ele, uma escalada comercial entre Brasil e Estados Unidos poderia prejudicar ainda mais a economia brasileira devido à assimetria entre os dois mercados.
Impacto das tarifas no Brasil
Trump anunciou, no domingo (9), que pretende aplicar uma tarifa de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio. O Brasil é o segundo maior exportador desses produtos para os EUA, com 48% de suas vendas externas destinadas ao mercado norte-americano. Em 2024, essa exportação gerou uma receita de US$ 5,7 bilhões.
Em resposta à medida, o governo brasileiro sob a liderança de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) considerou antecipar a proposta de taxar big techs americanas que operam no Brasil. No entanto, para Ferraz, uma reação imediata poderia aumentar ainda mais os custos para a economia brasileira. Ele sugere que o Brasil opte por negociações diplomáticas em vez de uma retaliação direta.
Histórico de tarifas e negociações
Não é a primeira vez que Trump impõe tarifas sobre o aço e alumínio brasileiros. Em 2018, durante seu primeiro mandato, ele estabeleceu alíquotas para esses produtos, posteriormente retiradas para o aço, mas mantidas em 10% para o alumínio com uma cota de importação. Em 2019, Trump ameaçou restabelecê-las, mas as negociações conduzidas pelo governo de Jair Bolsonaro evitaram a medida.
Ferraz acredita que um cenário similar pode se repetir agora, dependendo da qualidade das comunicações entre os dois governos. Ele também ressalta que, apesar das ameaças constantes de Trump sobre impostos e tarifas, ainda há dúvidas sobre até onde ele pretende levar tais medidas.
Disputa comercial e desigualdade tarifária
Trump já argumentou que os impostos sobre importação no Brasil são elevados. Hoje, a média tarifária brasileira é de 12%, enquanto os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aplicam, em média, 4%. No entanto, Ferraz destaca que essas diferenças são resultado de acordos promovidos pela Organização Mundial do Comércio (OMC), nos quais economias em desenvolvimento, como o Brasil, obtiveram isenções tarifárias.
Com um cenário global cada vez mais volátil, especialistas recomendam que o Brasil priorize a diplomacia para evitar impactos negativos na sua economia.