Brasil se torna palco para nova etapa da disputa entre China e EUA

O Brasil ocupa um lugar estratégico na crescente rivalidade geopolítica entre China e Estados Unidos, especialmente após a visita do presidente chinês, Xi Jinping, e sua participação na cúpula do G20 no Rio de Janeiro. Em um momento de transição nos Estados Unidos, com a iminente posse de Donald Trump em 2025, Xi Jinping aproveitou a ocasião para reforçar a posição chinesa como alternativa mais estável e confiável à liderança global americana.

O convite chinês e sua estratégia

Em artigo publicado na Folha de S. Paulo, Xi Jinping convidou o Brasil a “navegar junto à China a vela cheia”, uma metáfora que simboliza aproveitar ao máximo as oportunidades de parceria. Essa proposta reflete a busca da China por consolidar alianças econômicas e políticas, em resposta à possível intensificação do isolacionismo dos EUA sob a política “America First” de Trump.

Antes de chegar ao Brasil, Xi Jinping esteve no Peru, onde inaugurou o porto de Chancay, um marco no esforço chinês para expandir sua presença na América Latina. Durante o evento, ele defendeu a globalização e criticou “o domínio e a hegemonia” buscados por algumas nações — uma clara alusão aos Estados Unidos. Xi também propôs uma nova ordem econômica global, fundamentada no princípio de “planejar juntos, construir juntos e beneficiar juntos”.

Segundo o professor Liu Dongshu, da Universidade de Hong Kong, “se os EUA se retirarem do sistema global, a China é um dos poucos países com capacidade e intenção de preencher essa lacuna”. Isso explica por que Pequim busca abrir novos mercados, especialmente diante da expectativa de novas barreiras comerciais americanas contra produtos chineses.

O papel do Brasil no tabuleiro global

O Brasil, anfitrião da cúpula do G20, desempenha o papel de palco neutro onde potências como China e EUA rivalizam por influência. Apesar do alinhamento do discurso de Xi Jinping com o presidente Lula, que frequentemente defende a multipolaridade nas relações internacionais, o Brasil enfrenta limitações estruturais e geopolíticas.

Embora o convite chinês seja atrativo, o Brasil está situado na esfera de influência dos EUA e mantém laços econômicos e históricos profundos com o Ocidente. Além disso, sua economia, embora relevante, carece de peso suficiente para protagonizar movimentos decisivos no cenário global.

Por isso, o país precisa agir com cautela. Como observou o analista político Leonardo Barreto, o Brasil não tem a capacidade de aceitar integralmente a proposta chinesa de “navegar a vela cheia” ao lado de Pequim. Ao invés disso, deve equilibrar sua posição, reconhecendo a importância de manter relações sólidas tanto com os EUA quanto com a China, os dois maiores parceiros comerciais brasileiros.

A disputa entre China e EUA na América Latina

A presença chinesa na América Latina cresceu exponencialmente nas últimas décadas, especialmente em infraestrutura, comércio e financiamento. O porto de Chancay, no Peru, é um exemplo disso, reforçando a estratégia de Pequim de garantir acesso logístico e comercial em toda a região.

Enquanto isso, os EUA, tradicionalmente dominantes na América Latina, veem a expansão chinesa como uma ameaça. A posse de Trump pode intensificar essa percepção, levando a um aumento da pressão sobre países da região, incluindo o Brasil, para alinhar-se mais estreitamente com Washington.

Conclusão

A disputa entre China e EUA por influência global encontra no Brasil um palco importante, mas não um protagonista. O governo brasileiro, ciente de suas limitações e de sua posição estratégica, precisa navegar com habilidade nesse oceano turbulento.

Por enquanto, o Brasil continuará a desempenhar o papel de anfitrião, mantendo-se aberto a investimentos e parcerias, mas sem comprometer seu equilíbrio geopolítico em um cenário marcado por rivalidades crescentes. Afinal, em um mundo multipolar, o desafio é evitar ser arrastado pelas tempestades das grandes potências.

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