O primeiro-ministro de Ontário, Doug Ford, ameaçou nesta semana cortar o fornecimento de energia canadense para os Estados Unidos, em retaliação às promessas do presidente eleito Donald Trump de impor tarifas de 25% sobre produtos vindos do Canadá. A declaração foi feita em meio às crescentes tensões comerciais entre os dois países, após Trump anunciar que as novas taxas serão uma de suas prioridades ao assumir a presidência em 20 de janeiro.
“Chegaremos ao ponto de cortar a energia deles em Michigan, no estado de Nova York e em Wisconsin”, alertou Ford na quarta-feira (11). “Os canadenses vão se machucar, mas posso garantir uma coisa: os americanos também vão sentir a dor. Isso não é lamentável?”, acrescentou. Embora Ontário não seja uma das principais províncias produtoras de petróleo do Canadá, o governo provincial tem papel relevante no fornecimento de energia hidrelétrica para os estados americanos.
Tarifaço como pressão
No final de novembro, Trump anunciou interesse em aumentar as tarifas sobre produtos provenientes do Canadá, México e China. Ele justificou a medida como uma forma de pressionar esses países a intensificar o controle sobre imigração ilegal e narcotráfico, em especial o fentanil, que tem sido uma preocupação crescente nos Estados Unidos.
“Em 20 de janeiro, como uma das minhas muitas primeiras Ordens Executivas, assinarei todos os documentos necessários para cobrar do México e do Canadá uma tarifa de 25% sobre TODOS os produtos que entram nos Estados Unidos e suas ridículas fronteiras abertas”, publicou Trump em sua rede social, a Truth. Segundo ele, as tarifas permanecerão até que as “drogas, em particular o fentanil, e todos os estrangeiros ilegais” parem de entrar no país.
Relações energéticas complexas
Os Estados Unidos dependem, em parte, da energia hidrelétrica fornecida pelo Canadá, especialmente das províncias de Ontário, Quebec e Colúmbia Britânica. Em 2023, o Canadá exportou 33,2 milhões de megawatts-hora para os EUA, representando cerca de 1% do consumo total de energia americana, segundo dados da US Energy Information Administration (EIA).
Além disso, o Canadá é o maior fornecedor estrangeiro de petróleo para os Estados Unidos. Em 2023, mais da metade das importações americanas de petróleo bruto, equivalente a 1,4 milhão de barris por dia, vieram de território canadense. No mesmo período, Washington gastou cerca de US$ 3,2 bilhões em energia canadense, um declínio de 30% em relação ao ano anterior.
Impactos potenciais
Um eventual bloqueio de energia canadense poderia causar sérios problemas para estados americanos próximos à fronteira, como Michigan e Nova York, que dependem de importações para complementar sua demanda energética. Por outro lado, o Canadá também poderia sofrer impactos em períodos de seca, quando tradicionalmente recorre aos Estados Unidos para compensar a queda na geração de energia hidrelétrica.
“As linhas de transmissão de energia que ligam os Estados Unidos e o Canadá são parte de um sistema de energia complexo e altamente interconectado, com conexões que abrangem da Nova Inglaterra até o noroeste do Pacífico”, apontou a EIA em um relatório.
Enquanto isso, a comunidade internacional observa com preocupação as consequências de uma potencial guerra comercial entre os dois países, que poderiam afetar não apenas o mercado energético, mas também o equilíbrio diplomático entre duas das maiores economias do mundo.