Jon e Carie Hallford, donos da “Return to Nature Funeral Home”, se declaram culpados e enfrentam penas de até 20 anos de prisão
Jon e Carie Hallford, proprietários da funerária Return to Nature Funeral Home, declararam-se culpados na última sexta-feira (24) por 191 acusações de abuso de cadáveres. O casal, que administrava as unidades da empresa em Colorado Springs e Penrose, no Colorado, foi responsabilizado por armazenar corpos em decomposição de forma inadequada em suas instalações. O caso gerou comoção pública e levou a mudanças legislativas no estado.
Os Hallfords, que prometiam oferecer serviços de sepultamento ecológico, também admitiram ter fraudado famílias enlutadas e desviado recursos federais destinados ao alívio da pandemia de Covid-19. A sentença pela confissão de abuso de cadáveres está prevista para abril, enquanto o julgamento por fraude será em março.
Corpos armazenados por anos em condições degradantes
A investigação começou em outubro do ano passado, quando um forte odor denunciou a situação nas instalações em Penrose. No local, as autoridades encontraram 190 corpos armazenados em condições degradantes, muitos sem qualquer proteção. Alguns dos corpos estavam no local desde 2019, como o de um homem que ficou jogado fora de um saco para cadáveres dentro de uma geladeira inoperante por quatro anos, segundo relatos das vítimas.
“Essas famílias foram enganadas e traídas de uma maneira inimaginável”, afirmou Michael Allen, procurador do 4º Distrito Judicial do Colorado. “O impacto emocional é algo do qual muitas delas talvez nunca se recuperem”.
Além do armazenamento inadequado, os Hallfords entregaram urnas com concreto às famílias, em vez das cinzas dos falecidos, e até enterraram corpos trocados em cemitérios, conforme detalhado nas acusações.
Fraude milionária e vida de luxo
Paralelamente às irregularidades na administração funerária, os Hallfords foram acusados de desviar mais de 800 mil dólares em fundos de alívio da pandemia fornecidos pela Administração de Pequenos Negócios dos Estados Unidos. Em vez de aplicar os recursos em suas operações, o casal gastou em viagens, joias e compras luxuosas.
Além disso, os registros mostram que mais de 130 mil dólares pagos por famílias para cremações ou sepultamentos nunca foram usados para esses fins.
Impacto no Colorado e mudanças legislativas
O caso chocante gerou um debate sobre a regulamentação da indústria funerária no Colorado, um dos poucos estados que não exige licenciamento, certificação ou educação formal para profissionais do setor. Legisladores locais já começaram a discutir propostas para tornar obrigatória a regulamentação da atividade, prevenindo futuros abusos.
O Colorado também é um dos poucos estados americanos a permitir a compostagem humana, prática que transforma restos mortais em solo. Apesar dessa legislação progressista, o caso dos Hallfords expôs lacunas no controle de práticas funerárias tradicionais no estado.
Famílias em busca de justiça
Enquanto aguardam a sentença, as famílias das vítimas seguem lidando com as consequências emocionais e legais da tragédia. David Page, parente de uma das vítimas, lamentou a indignidade enfrentada pelo corpo de seu ente querido.
“É indescritível imaginar que alguém em quem confiamos com algo tão sagrado tenha feito isso”, desabafou ele à imprensa.
O caso dos Hallfords não apenas marcou um dos episódios mais perturbadores na história funerária dos Estados Unidos, mas também destacou a necessidade de maior fiscalização em um setor que lida com a confiança e o luto das famílias.