Em mais um capítulo da crescente tensão comercial entre China e Estados Unidos, o governo chinês anunciou nesta quarta-feira (9) uma nova rodada de retaliações, impondo uma tarifa de 84% sobre produtos americanos, o que reacendeu a instabilidade nos mercados globais e afetou diretamente os preços da soja na Bolsa de Chicago (CBOT). O anúncio, feito nas primeiras horas do dia, reverteu o movimento de alta que vinha sendo registrado nas cotações da oleaginosa, que voltaram a operar sem direção definida diante do clima de incerteza.
Por volta das 8h50 (horário de Brasília), os contratos da soja variavam entre leves altas e perdas: o vencimento de maio subia 3,50 pontos, cotado a US$ 9,96 por bushel, enquanto o contrato de setembro caía 1,75 ponto, sendo negociado a US$ 9,74. O milho também sentiu o impacto do agravamento da tensão comercial e da pressão vinda do mercado financeiro, operando no vermelho após a queda de mais de 6,5% no preço do petróleo, que já era negociado abaixo de US$ 60,00 por barril.
Segundo o relatório da Cerealpar, os movimentos recentes também refletem um ajuste técnico nas posições, após quedas intensas nos preços dos grãos. Traders estão se reposicionando à espera do relatório mensal de oferta e demanda mundial do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), previsto para esta quinta-feira. Apesar de uma expectativa de leve viés altista, com estoques possivelmente menores, a postura do mercado é de extrema cautela diante da escalada da guerra comercial.
Na CBOT, o mercado de trigo resistia e seguia em campo positivo, assim como o farelo de soja, sustentado por expectativas de redução no esmagamento na Argentina. Por outro lado, o óleo de soja recuava cerca de 2%, puxado pela forte queda no petróleo. O índice do dólar também apresentava queda de 0,8%, sendo cotado a 101,917 pontos, enquanto o índice de volatilidade S&P 500 VIX subia quase 8%, refletindo o nervosismo nos mercados.
Além das medidas efetivas – como a tarifa dos EUA que entra em vigor hoje e a resposta rápida de Pequim – o clima nos mercados continua sendo moldado por declarações duras de ambos os lados. O presidente chinês, Xi Jinping, reforçou que Pequim não irá ceder diante das pressões, enquanto o secretário do Tesouro dos EUA rebateu dizendo que a retaliação “é uma perda para eles”.
A tensão se refletiu também nas principais bolsas mundiais. Os mercados asiáticos fecharam em queda acentuada, e as bolsas americanas e europeias estendiam as perdas pela manhã. No Brasil, o dólar iniciou o dia em forte alta, rompendo os R$ 6,06, com valorização superior a 1%.
Analistas da Agrinvest Commodities destacam que o pano de fundo atual dos mercados globais é marcado por uma forte divergência regional: enquanto a Ásia tenta ganhar fôlego com possíveis estímulos econômicos da China, a Europa enfrenta entraves políticos e o temor de desaceleração. A guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo continua sendo o principal fator de instabilidade, com efeitos imediatos nos preços das commodities e na confiança dos investidores.