GENEBRA — 12 de maio de 2025 — Em um esforço conjunto para conter a escalada de sua prolongada guerra comercial, Estados Unidos e China anunciaram nesta segunda-feira (12) um acordo que prevê a redução mútua de tarifas sobre produtos importados durante um período de 90 dias. O entendimento foi alcançado após reuniões entre representantes dos dois países realizadas em Genebra, na Suíça, no último fim de semana.
Segundo o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, os dois lados concordaram em reduzir as tarifas em 115% a partir de quarta-feira (14). Isso resultará na diminuição das tarifas americanas sobre produtos chineses para 30%, enquanto as tarifas chinesas sobre bens americanos cairão para 10%.
O comunicado conjunto divulgado após o encontro destacou que os dois países concordaram em “estabelecer um mecanismo para continuar as discussões sobre relações econômicas e comerciais”. Também reconheceram a importância das relações bilaterais para a economia global, indicando que futuras rodadas de negociações poderão ocorrer tanto nos Estados Unidos quanto na China.
Outro ponto relevante do acordo envolve a suspensão de uma tarifa adicional de 20% imposta anteriormente à China em razão da crise do fentanil. Segundo o presidente Donald Trump, Pequim se comprometeu a interromper o envio da substância aos EUA, o que levou à retirada da taxa. A China é considerada a principal fonte dos precursores químicos usados na produção do opioide sintético, que foi responsável por mais de 74 mil mortes nos EUA em 2023, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).
A trégua nas tarifas ocorre após um período de intensificação do conflito comercial. Em abril, os EUA anunciaram tarifas de 34% sobre produtos chineses, ao que a China respondeu com medidas similares. Com sucessivas rodadas de retaliações, as tarifas totais chegaram a 145% do lado americano e a 125% do lado chinês, gerando instabilidade nos mercados financeiros e aumentando os temores de impactos negativos na economia global.
Após o anúncio do acordo, houve valorização tanto do dólar americano quanto do yuan chinês. Analistas internacionais consideraram a redução tarifária maior do que o esperado, classificando o movimento como positivo, embora ainda insuficiente para resolver as questões estruturais que dificultam um entendimento duradouro entre as duas potências econômicas.
Na Casa Branca, Trump afirmou que não espera que as tarifas voltem ao patamar anterior após os 90 dias, destacando o desejo da China de evitar um agravamento da disputa. A secretária de imprensa Karoline Leavitt classificou o acordo como “um primeiro passo extraordinário na direção certa” e indicou que a China se mostrou disposta a discutir a ampliação do acesso ao seu mercado para produtos americanos, além de continuar tratando do impacto do fentanil.
O presidente dos EUA também anunciou a possibilidade de um encontro com o presidente chinês, Xi Jinping, ainda nesta semana.
Apesar do avanço, especialistas como o repórter de negócios Jonathan Josephs alertam que o prazo de 90 dias é curto para resolver impasses de longa data. Ele lembra que, durante o primeiro mandato de Trump, negociações similares resultaram no chamado “Acordo Comercial de Fase Um” em 2020, mas com cumprimento parcial das metas pela China. Questões como a proteção à propriedade intelectual e o modelo econômico estatal chinês seguem como obstáculos centrais.
A nova trégua oferece, no entanto, uma oportunidade para ambas as partes reduzirem tensões e evitarem maiores danos à economia global. Ainda assim, analistas alertam que o caminho para um acordo comercial duradouro entre as duas maiores economias do mundo permanece incerto.