Concorrência chinesa em inteligência artificial abala mercado de big techs nos EUA

As ações das big techs norte-americanas sofreram um duro golpe nesta segunda-feira (27), após a startup chinesa DeepSeek lançar um modelo de inteligência artificial (IA) que está sacudindo o mercado global. A novidade gerou fortes quedas nas bolsas de Nova York, com destaque para o índice Nasdaq, que recuava 3,20% às 13h48, horário de Brasília.

Grandes nomes do setor, como Nvidia (-16,81%), Broadcom (-16,16%) e Micron (-10,60%), lideraram as perdas, enquanto Meta e Microsoft também sentiram o impacto. Apesar de a Meta reverter o movimento e registrar alta de 1,66%, a Microsoft continuava em queda de 3,89%.

DeepSeek e a ascensão da IA chinesa

O modelo de IA da DeepSeek, chamado R1 e V3, tem se destacado por sua eficiência e baixo custo, rivalizando com tecnologias desenvolvidas pelas big techs americanas, como os modelos da OpenAI. De acordo com Plínio Zanini, diretor de Risco da Ciano Investimentos, a startup chinesa teria investido apenas US$ 6 milhões no desenvolvimento de sua IA, enquanto empresas norte-americanas gastam centenas de milhões de dólares para alcançar resultados semelhantes.

“Essa rápida ascensão é impressionante e gera questionamentos sobre a necessidade de altos investimentos no setor, uma vez que a DeepSeek conseguiu resultados com uma fração do custo”, explica Zanini.

Os novos modelos da DeepSeek conquistaram rapidamente o público, atingindo o topo da Apple App Store e se tornando líderes em rankings globais de chatbots de IA. Além disso, o uso de chips menos avançados, mas ainda assim eficientes, reforça o potencial disruptivo da tecnologia.

Impacto no mercado global

O lançamento da DeepSeek abalou não apenas o mercado norte-americano, mas também outras regiões. Na Ásia, o SoftBank viu suas ações caírem 8%, enquanto na Europa os índices de tecnologia registraram quedas. Nos EUA, o índice de volatilidade VIX disparou 47%, evidenciando o nervosismo dos investidores.

William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, destacou que a reação negativa reflete tanto o impacto imediato da notícia quanto preocupações de médio prazo. “Com um novo competidor capaz de desenvolver tecnologia de ponta a custos reduzidos, os investidores questionam os elevados investimentos que as big techs americanas vêm fazendo no segmento de IA”, aponta.

Rivalidade geopolítica e possíveis restrições

A novidade surge em um momento delicado das relações entre Estados Unidos e China. Com Donald Trump de volta à presidência, a guerra comercial entre as duas potências promete se intensificar. Nesse contexto, o avanço da DeepSeek pode ser visto com desconfiança por governos ocidentais, especialmente devido a preocupações com segurança de dados.

“Há dúvidas sobre a confiabilidade de um sistema que pode compartilhar dados com o governo chinês. Será que veremos uma resposta semelhante à que ocorreu com o TikTok, ou novas restrições à transferência de tecnologia para a China?”, questiona Castro Alves.

Futuro das big techs diante do novo competidor

Embora ainda seja cedo para avaliar o impacto de longo prazo da DeepSeek no mercado de tecnologia, o evento já levanta debates sobre a sustentabilidade dos modelos de negócios das gigantes americanas. O lançamento do novo modelo chinês de IA pode forçar uma reavaliação estratégica, especialmente no que diz respeito a investimentos e competitividade.

Com a tensão geopolítica em alta, a DeepSeek se coloca como uma peça central em um cenário onde tecnologia, mercado e política estão mais interconectados do que nunca.

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