Com os preços dos alimentos já pressionando os bolsos dos americanos, a promessa de campanha de Donald Trump de implementar o maior programa de deportação em massa da história dos Estados Unidos pode agravar a situação. Especialistas alertam que a medida pode provocar um aumento significativo no custo dos alimentos, devido à dependência das indústrias agrícola e alimentícia de trabalhadores imigrantes, muitos dos quais estão em situação irregular.
O impacto das deportações na cadeia alimentar
Segundo dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), cerca de 41% dos trabalhadores agrícolas não possuem autorização de trabalho, e outros 23% são imigrantes autorizados. Isso significa que mais de 60% da força de trabalho agrícola é composta por imigrantes. Uma redução drástica nessa força de trabalho pode comprometer a produção de alimentos, levando a uma escassez e, consequentemente, à alta de preços.
“Se você tirar esses trabalhadores, não haverá produção. E sem produção, os preços só podem subir”, afirmou Chuck Conner, presidente do National Council of Farmer Cooperatives.
Setores como colheita de frutas e vegetais, produção de carnes e laticínios seriam particularmente afetados. Em Idaho, por exemplo, cerca de 90% dos empregos em fazendas de laticínios são preenchidos por trabalhadores estrangeiros. “Não temos trabalhadores suficientes para preencher todos os empregos que temos”, disse Rick Naerebout, CEO da Idaho Dairymen’s Association.
Preços mais altos no supermercado
Mark Zandi, economista-chefe da Moody’s Analytics, reforça que as deportações em massa inevitavelmente levariam a custos mais altos para os consumidores. “A questão não é se os preços vão subir, mas sim o quanto”, disse Zandi.
Produtos que dependem de trabalho manual, como frutas, vegetais, carnes e laticínios, seriam os mais impactados. A escassez de trabalhadores não apenas limitaria a oferta, mas também aumentaria os custos de operação, refletindo diretamente no preço final.
A relação com a inflação e tarifas
Além das deportações, a proposta de Trump de impor tarifas de importação de 20% sobre alimentos vindos do exterior pode agravar ainda mais os custos. Itens como frutas tropicais, café e frutos do mar, amplamente consumidos nos EUA, estariam entre os produtos sujeitos a essas tarifas.
Embora Trump tenha argumentado durante sua campanha que conseguirá controlar a inflação, economistas como Chloe East, da Universidade do Colorado, alertam que o impacto da redução da força de trabalho seria avassalador. “A perda de trabalhadores disponíveis levaria a um aumento generalizado no preço dos alimentos”, afirmou East.
Soluções para evitar a crise
Produtores agrícolas e representantes do setor sugerem que, ao invés de deportações em massa, o governo deveria expandir programas de vistos temporários e permitir que trabalhadores existentes regularizem seu status.
“O sistema atual não atende à necessidade de trabalhadores rurais. Precisamos de mais trabalhadores imigrantes, não menos”, ressaltou Naerebout.
Se Trump seguir em frente com suas promessas de deportação, a administração terá que equilibrar seu impacto na economia alimentar para evitar uma nova crise de acessibilidade, algo que pode colocar em risco o próprio apoio que o levou de volta à Casa Branca.