O dólar voltou a subir nesta terça-feira (17) e atingiu pela primeira vez a marca de R$ 6,20. Na máxima do dia, a moeda norte-americana alcançou R$ 6,2065, refletindo a preocupação do mercado com o pacote de cortes de gastos proposto pelo governo federal. A alta, no entanto, foi parcialmente contida após duas intervenções do Banco Central (BC).
Intervenção do BC
Para frear a pressão cambial, o Banco Central realizou dois leilões no mercado de câmbio. O primeiro vendeu US$ 1,2 bilhão, e o segundo, US$ 2 bilhões. As intervenções não conseguiram reverter a tendência de alta do dólar, mas amenizaram o movimento, trazendo a moeda para R$ 6,12.
O mercado tem reagido negativamente à proposta de corte de gastos enviada pelo governo ao Congresso Nacional. A meta é economizar R$ 70 bilhões nos próximos dois anos e um total de R$ 375 bilhões até 2030, como parte do arcabouço fiscal. Contudo, analistas criticam a ausência de medidas mais estruturais no pacote.
Desconfiança do mercado
A proposta não contempla cortes em despesas obrigatórias, como a Previdência, reajustes vinculados ao salário mínimo e os pisos constitucionais de saúde e educação. Segundo especialistas, essas despesas tendem a crescer em ritmo acelerado, o que pode neutralizar os efeitos do pacote em pouco tempo.
Os investidores também demonstram pessimismo com a capacidade do governo de conter o endividamento público no longo prazo. O arcabouço fiscal determina que o governo zere o déficit público em 2024 e 2025, e comece a gerar superávit primário a partir de 2026. No entanto, o mercado ainda aguarda medidas mais robustas.
Pressão política e emendas parlamentares
Para evitar uma desidratação do pacote de cortes de gastos e garantir sua aprovação no Congresso, o governo prepara a liberação de R$ 800 milhões em emendas parlamentares. Esse valor se soma aos R$ 7,6 bilhões já empenhados até esta segunda-feira (16).
Alta dos juros e preocupação com a inflação
A divulgação da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) também influenciou o mercado. O Banco Central destacou que a disparada do dólar e a piora no cenário fiscal pressionaram os preços de ativos e elevaram as expectativas de inflação.
No último dia 11, o Copom elevou a taxa Selic em 1 ponto percentual, de 11,25% para 12,25% ao ano, e indicou mais duas altas de mesma magnitude nas próximas reuniões. O movimento deve levar a Selic a 14,25% ao ano. A preocupação do Banco Central é com o repasse do dólar alto para os preços de produtos e serviços, o que pode impactar negativamente a inflação.
Mercados financeiros
Apesar do cenário desafiador, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira (B3), opera em alta. Às 14h25, o Ibovespa subia 1,07%, aos 124.887 pontos. Na véspera, o índice havia recuado 0,84%.
O dólar, por sua vez, registrava alta de 0,44% no mesmo horário, cotado a R$ 6,1212. Com o resultado, a moeda acumula avanço de 0,99% na semana, 1,56% no mês e 25,59% no ano.
Reunião de Haddad com Lula
Em meio às tensões do mercado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se reuniu com o presidente Lula na segunda-feira (16). O encontro ocorreu após o presidente receber alta hospitalar no domingo (15), após uma cirurgia de emergência.
Haddad afirmou que discutiu com Lula a reforma tributária e o pacote fiscal em andamento no Congresso. Segundo o ministro, o presidente apelou para que as medidas não sejam desidratadas pelos parlamentares, destacando a importância de manter a robustez do arcabouço fiscal.
“O presidente disse ontem que ninguém se preocupa mais com a questão fiscal quanto ele. Por isso, o apelo que ele está fazendo é para que as medidas não sejam desidratadas”, afirmou Haddad.
Cenário segue incerto
O mercado segue atento à tramitação do pacote no Congresso e a possíveis alterações feitas pelos parlamentares. O governo, por sua vez, busca equilibrar a pressão do mercado com os limites políticos de suas medidas fiscais. Enquanto isso, a volatilidade do dólar e a expectativa de novos aumentos na Selic continuarão no radar dos investidores.