Dólar se aproxima de R$ 6 e Ibovespa cai após tarifaço dos EUA contra a China

Mercado reage negativamente à escalada da guerra comercial entre Washington e Pequim; dólar atinge maior valor desde janeiro e bolsas globais tentam se recuperar

São Paulo, 8 de abril de 2025 — Em um dia de forte tensão nos mercados, o dólar disparou e fechou cotado a R$ 5,9973 nesta terça-feira (8), com alta de 1,47%. É o maior valor registrado pela moeda americana desde 21 de janeiro deste ano, quando encerrou o dia a R$ 6,0302. No mesmo ritmo negativo, o Ibovespa caiu 1,32%, aos 123.932 pontos, pressionado pela incerteza global após os Estados Unidos confirmarem a aplicação de uma tarifa adicional de 50% sobre produtos importados da China.

Com a nova medida, que entra em vigor nesta quarta-feira (9), o total de tarifas americanas contra produtos chineses atinge 104%. O movimento é uma resposta direta à retaliação anunciada por Pequim na semana passada, quando o governo chinês impôs uma tarifa extra de 34% sobre mercadorias dos EUA.

A decisão da Casa Branca foi confirmada após o prazo de recuo da China expirar às 13h desta terça-feira, sem resposta positiva. Durante a madrugada, o governo chinês reafirmou sua disposição de resistir às novas tarifas, declarando que está pronto para responder aos aumentos, embora tenha ressaltado que “em uma guerra comercial não há vencedores”.

Trump: “Estamos esperando a ligação deles”

O presidente Donald Trump chegou a afirmar em sua rede social que esperava uma ligação de Pequim para negociar as tarifas, mas que ainda não havia ocorrido. “A China quer muito fazer um acordo, mas não sabe por onde começar. Estamos esperando a ligação deles. Vai acontecer!”, escreveu.

Apesar da escalada, autoridades americanas disseram que seguem dispostas a negociar com aliados estratégicos. O assessor econômico da Casa Branca, Kevin Hassett, indicou que países como Japão e Coreia do Sul devem ser priorizados nas conversas para eventuais reduções tarifárias.

Reações nos mercados globais

A tensão entre as duas maiores economias do mundo vem movimentando os mercados desde a semana passada. A guerra tarifária já causou perdas bilionárias nas bolsas globais, com destaque para os índices norte-americanos, que registraram queda acumulada de até 10% e perdas de US$ 6 trilhões em valor de mercado em apenas dois dias.

Na Europa e na Ásia, o pregão desta terça foi mais positivo, com alguns índices tentando recuperação. O Nikkei 225, do Japão, subiu impressionantes 6,01%, enquanto o DAX alemão avançou 2,36%. O otimismo, no entanto, é frágil, sustentado pela expectativa de que os EUA avancem em negociações com outros países para evitar uma guerra comercial generalizada.

Bolsas em queda e dólar em alta: reflexo da incerteza

Com a tensão crescente, investidores têm fugido dos ativos de risco, como ações, e buscado segurança em moedas fortes e títulos do governo americano. No Brasil, a alta do dólar acumulada na semana já chega a 2,77%, enquanto o Ibovespa já caiu 2,61% no mesmo período. Em abril, a moeda americana já sobe 5,11% frente ao real.

Os temores de desaceleração econômica nos EUA e no mundo aumentam, especialmente após o anúncio de que a China passará a controlar as exportações de terras raras para os EUA. Essas matérias-primas são fundamentais para a indústria de tecnologia, e a restrição afeta diretamente setores como o de chips, celulares, baterias e equipamentos de comunicação.

Especialistas alertam para impacto inflacionário e risco de recessão

O analista financeiro Vitor Miziara avalia que a guerra tarifária pode desencadear uma espiral de inflação e queda no consumo global. “Com tarifa no mundo inteiro, tudo fica mais caro até que o comércio global pare”, explica. Segundo ele, o risco de uma recessão nos EUA se tornou mais real, com possíveis efeitos em cadeia sobre o restante do mundo.

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