Eleições dos EUA: O impacto geopolítico e econômico para o Brasil, segundo especialista

Nesta terça-feira (5), os eleitores dos 50 estados americanos vão às urnas para escolher o próximo presidente dos Estados Unidos, uma disputa que já é observada de perto por todo o mundo, especialmente no Brasil. A polarização entre os candidatos Kamala Harris e Donald Trump coloca o futuro das relações internacionais dos EUA em jogo, com destaque para a relação entre os Estados Unidos e a China, que pode afetar diretamente países como o Brasil. Em entrevista ao podcast O Assunto, o cientista político Christopher Garman, diretor executivo da consultoria Eurasia, explicou por que as eleições americanas deste ano têm tamanha importância para a geopolítica global.

Estados Unidos e China: A relação crítica para o futuro geopolítico

De acordo com Garman, a grande questão geopolítica dessas eleições é o futuro das relações entre os Estados Unidos e a China, duas potências globais que estão em uma constante disputa econômica, comercial e tecnológica. Para o cientista político, independentemente de quem vença a eleição, a deterioração dessa relação já parece ser inevitável. No entanto, ele destaca que uma vitória de Donald Trump pode exacerbar ainda mais essa tensão.

“Se o Trump prevalecer e adotar medidas mais punitivas do lado de política comercial, aumentando as tarifas sobre a China de forma mais forte, isso pode azedar ainda mais a relação entre os dois países”, afirmou Garman. Segundo ele, os chineses provavelmente responderiam com retaliações comerciais, o que pode ter impactos globais, afetando mercados em todo o mundo, incluindo o Brasil.

No contexto brasileiro, Garman observa que, tradicionalmente, o Brasil tenta manter uma postura de equilíbrio, buscando boas relações tanto com os EUA quanto com a China. No entanto, com um cenário de crescente polarização entre as duas superpotências, países como o Brasil podem ser pressionados a se alinhar mais fortemente com um lado ou com o outro, o que poderia complicar as relações comerciais e diplomáticas do país.

Impactos das promessas de Trump na economia global

Christopher Garman também analisa as propostas de campanha de Donald Trump, que, se implementadas, podem ter efeitos profundos na economia global. Entre as promessas mais contundentes estão a imposição de tarifas universais de 10% sobre todos os produtos importados para os EUA e uma tarifa de 60% sobre os produtos chineses. Para o cientista político, essas medidas protecionistas seriam prejudiciais para a economia global.

“Mesmo que Trump implemente uma fração dessas promessas, o impacto será significativo. Se ele decidir realizar uma deportação em massa de imigrantes, isso pode gerar inflação nos Estados Unidos, especialmente com um mercado de trabalho já apertado”, explicou Garman. “Além disso, um aumento nas tarifas comerciais poderia fortalecer ainda mais o dólar, enfraquecendo moedas de países emergentes, como o Brasil. Isso dificultaria a capacidade do Banco Central brasileiro de reduzir juros em 2025”, acrescentou.

Outra medida que Garman aponta como potencialmente negativa para o Brasil é a possível saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas. Isso não apenas enfraqueceria os esforços globais para combater as mudanças climáticas, mas também teria repercussões nas negociações climáticas internacionais, em que o Brasil tem papel de destaque.

Kamala Harris e a continuidade da política externa de Biden

Por outro lado, o cientista político vê um cenário mais favorável para o Brasil caso Kamala Harris vença as eleições. “Se Harris ganhar, é mais provável que o Brasil tenha um ambiente macroeconômico global mais favorável”, afirma Garman. Ele explica que, com uma vitória de Harris, é esperado que a política externa dos Estados Unidos continue a linha adotada por Joe Biden, sem grandes rupturas nas relações internacionais, o que ajudaria a manter um clima de estabilidade econômica global.

Além disso, uma administração Harris tenderia a evitar as medidas protecionistas e as políticas que gerariam mais inflação nos Estados Unidos, o que, segundo o especialista, poderia diminuir os riscos de um crescimento econômico mais fraco tanto nos EUA quanto na China. Esse cenário seria benéfico para economias emergentes como a brasileira, já que criaria um ambiente mais favorável para o comércio global.

Conclusão: O futuro do Brasil nas mãos dos EUA

O cientista político conclui que, independentemente do vencedor, as eleições americanas de 2024 serão determinantes não apenas para os Estados Unidos, mas também para o Brasil e outros países que dependem da estabilidade econômica e geopolítica global. Se Trump vencer, o Brasil pode enfrentar desafios adicionais nas suas relações comerciais e econômicas, além de se ver pressionado por um alinhamento mais explícito com uma das potências. Por outro lado, uma vitória de Kamala Harris parece ser um caminho de maior previsibilidade, com um ambiente mais construtivo e menos propenso a políticas que aumentem a inflação global e desestabilizem a economia de países como o Brasil.

À medida que os Estados Unidos se encaminham para a escolha de seu próximo presidente, o impacto das decisões políticas no país mais poderoso do mundo continua a se estender a todos os cantos do planeta, e, no caso do Brasil, isso significa um futuro econômico que ainda está em jogo.

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