Washington, D.C., 6 de novembro de 2024 — As pesquisas eleitorais americanas enfrentam mais um ano de questionamentos após a vitória surpreendente de Donald Trump contra Kamala Harris, que parecia improvável para muitos analistas. Durante a campanha, a disputa foi retratada como extremamente acirrada, mas Trump acabou conquistando 50,7% dos votos populares e garantiu 295 delegados, enquanto Harris alcançou 47,6% dos votos e 226 delegados no Colégio Eleitoral.
A vitória de Trump, que levou estados decisivos e obteve um desempenho inesperado em várias outras regiões, surpreendeu tanto o público quanto os especialistas, que esperavam uma corrida muito mais apertada. Mais ainda, Trump se prepara para ser o primeiro republicano a vencer no voto popular em duas décadas, com possibilidade de governar com uma Câmara e um Senado alinhados ao partido.
Pesquisas Subestimam Trump pela Terceira Vez
Os erros nas projeções eleitorais reacenderam o debate sobre a metodologia das pesquisas e as falhas que podem ter levado à subestimação do apoio a Trump, uma recorrência vista desde 2016. No entanto, como destaca o professor Michael Bailey, da Universidade de Georgetown, a diferença entre os resultados e as projeções não foi muito ampla, mas em uma disputa acirrada, pequenas margens de erro podem ter grandes consequências.
A Pensilvânia foi um exemplo de como as pesquisas quase acertaram a margem de Trump, mas ele surpreendeu em estados como Flórida e Nova Jersey, onde venceu com margens significativamente maiores do que o previsto. Na Flórida, por exemplo, o site RealClearPolitics mostrava Trump com uma vantagem de cinco pontos na reta final da campanha, mas ele venceu por mais de 13 pontos.
“Cegueira” em Partes dos EUA
Para Bailey, há pontos cegos em algumas regiões que pesquisas nacionais têm dificuldade de capturar. Os eleitores latinos e jovens, por exemplo, mostraram um apoio crescente a Trump, o que não foi devidamente detectado. Já o analista Nate Silver, do site 538, afirmou que os sinais de alerta estavam presentes para quem observava as tendências mais de perto: uma pesquisa recente em Nova York mostrou que Trump ganhava terreno em áreas democratas, mas a análise detalhada foi limitada.
O Problema das Pesquisas Eleitorais: Modelos e Apostas
Os resultados deste ano reacendem o debate sobre a confiança em modelos tradicionais versus abordagens alternativas, como apostas, que passaram a ser defendidas por figuras como Elon Musk. Com a popularidade das apostas crescendo, muitos passaram a questionar se elas são uma forma mais precisa de prever resultados.
James Johnson, da JL Partners, observou ainda que, entre aqueles inclinados a responder pesquisas online, a maioria eram democratas: jovens, mais engajados e, muitas vezes, trabalhando de casa. Essa disparidade destaca um dos principais desafios para os pesquisadores. “Precisamos voltar ao básico e gastar tempo e recursos para tornar as pesquisas precisas”, argumenta Jon Krosnick, da Universidade de Stanford.
Pesquisas Precisam se Reinventar
Pesquisadores como Bailey reconhecem que é necessário superar a abordagem das amostras aleatórias tradicionais e adotar modelos mais robustos para medir as mudanças na sociedade americana. Com a queda nas respostas às pesquisas, os pesquisadores precisam se adaptar e repensar a forma como conseguem refletir com precisão a voz de cada eleitor.
A vitória de Trump, que contraria grande parte das previsões, levanta questões cruciais para o futuro da pesquisa eleitoral nos EUA. Especialistas enfatizam a importância de aperfeiçoar as metodologias para capturar o espectro completo dos eleitores — uma tarefa que se mostra cada vez mais desafiadora e fundamental em um cenário político em constante mudança.