Estados Unidos usavam terrenos como estacionamento gratuito há 15 anos: agora o Uruguai resolveu enviar a conta

Um conflito entre duas grandes nações.

Uma ocupação ocorre quando alguém ou um grupo utiliza propriedades aparentemente “abandonadas” pelo dono. Claro, isso nem sempre é tão simples, e o termo possui várias nuances. Contudo, raramente isso acontece. Desta vez, um país lembrou-se que possui terras de outro país, e que um terceiro as utiliza gratuitamente há anos sem permissão.

A notícia nos leva à Arábia Saudita, embora, desta vez, ela não seja o centro da história. Houve uma compra feita há mais de 40 anos. O governo do Uruguai investiu em um terreno de 2.751 metros quadrados no coração diplomático de Riad. A ideia inicial era construir uma futura embaixada do país no local, mas o plano nunca se concretizou, e o espaço permaneceu vazio.

No entanto, quatro décadas depois, o Estado uruguaio, não sabemos se por denúncia ou outro motivo, recuperou os documentos oficiais daquela compra passada após descobrir um fato surpreendente: os Estados Unidos estão utilizando o terreno do país sul-americano há pelo menos quinze anos. Supostamente, como um estacionamento para sua embaixada, localizada bem em frente ao terreno.

O terreno custou ao Uruguai, há exatos 42 anos, 280 mil dólares, e embora a ideia não seja cobrar nenhuma taxa dos americanos pelo uso sem aviso prévio ou indenização durante esses 15 anos, o país sul-americano pretende começar a cobrar aluguel por um terreno que quadruplicou de valor nessas quatro décadas devido à sua localização em uma das “milhas douradas” da cidade e à oferta quase inexistente de aluguéis nas proximidades.

Série de desentendimentos O Ministério das Relações Exteriores do Uruguai foi informado pela primeira vez que os EUA estavam usando o terreno como estacionamento em 2007, mas o embaixador uruguaio na época, Rodolfo Invernizzi, não tomou nenhuma medida. Em 2013, a situação foi novamente levada ao conhecimento do Ministério das Relações Exteriores. Na época, o ministro das Relações Exteriores era Luis Almagro, e ele ignorou a “denúncia” porque estava tentando vender o terreno, embora no final a venda não tenha se concretizado.

Conforme relata o jornal uruguaio El Observador, a história mudou quando Nelson Chaben, atual embaixador do Uruguai na Arábia Saudita, começou a procurar informações sobre as terras não utilizadas do país. Ele não sabia qual era o status desses terrenos ou se ainda pertenciam ao país, mas se pertencessem, eles teriam “um tesouro”, pois os aluguéis na área estavam subindo muito.

“Diante do aumento repentino dos aluguéis, que afetou nossos escritórios e a residência do embaixador, procurei as informações básicas na embaixada e as encontrei rapidamente. Tudo estava muito organizado e bem guardado, o Ministério das Relações Exteriores havia preservado muito bem todos os registros”, explicou o diplomata.

Com os documentos oficiais em mãos, Chaben descobriu que o terreno que havia sido comprado estava bem conservado, pavimentado e tinha até algumas plantas e palmeiras bem cuidadas, mas também descobriu que a embaixada dos Estados Unidos o usava como estacionamento há anos.

Negociações difíceis Os EUA afirmam que não sabiam que se tratava de terras uruguaias e que, desde o início, se mostraram abertos ao diálogo e à busca de uma solução para ambos os países. Inicialmente, foi acordado um aluguel anual, que poderia mudar posteriormente, e o Estado uruguaio está tentando fechar o valor, mas cobrar dinheiro “em atraso” é uma história bem diferente. Essencialmente, o Uruguai não poderá cobrar nada pela ocupação anterior.

Embora possa parecer simples, calcular o pagamento não é tão simples. Aparentemente, no contrato de compra há 42 anos, o Uruguai se comprometeu a não utilizar a propriedade “para fins de aluguel” e garantiu que a sede e a residência da embaixada seriam construídas no terreno. Assim, quando o acordo foi apresentado, a prefeitura de Riad recusou-se a aceitar o arranjo.

De qualquer forma, os EUA continuam comprometidos com o acordo. Segundo a mídia uruguaia, o arranjo será temporário (os EUA mudarão a sede diplomática em breve), por cerca de três anos e por um valor mensal de 2 mil dólares, sujeito à aprovação do Registro de Terras do Uruguai.

A verdade é que a situação que levou a essa curiosa trama entre o Uruguai e os Estados Unidos não é outra senão o preço do aluguel, uma questão de grande preocupação em várias partes do mundo. Enquanto alguns lugares, como Viena, parecem ter encontrado uma solução, outros (muitos), como Barcelona, precisam de mais moradias no mercado.

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