As tarifas sobre a importação de aço, alumínio e seus derivados nos Estados Unidos passaram de 25% para 50%, conforme decreto assinado pelo presidente Donald Trump. A medida entrou em vigor nesta quarta-feira (4) e tem como justificativa, segundo o governo norte-americano, a proteção da segurança nacional e o fortalecimento da indústria doméstica.
O aumento atinge diversos países exportadores, incluindo o Brasil, que é o segundo maior fornecedor de aço para os Estados Unidos, atrás apenas do Canadá. O Reino Unido ficou de fora da nova alíquota, mantendo a tarifa anterior de 25%, graças a um acordo comercial recente com os EUA.
Impacto nas Relações Comerciais
O Brasil exportou cerca de 4,1 milhões de toneladas de aço para os EUA em 2024, de acordo com dados do Departamento de Comércio americano. As exportações brasileiras atendem principalmente os setores de automóveis, construção civil, eletrodomésticos e eletrônicos nos Estados Unidos.
Especialistas em comércio internacional avaliam que o impacto pode ser significativo, especialmente para empresas com grande foco no mercado externo. As siderúrgicas que dependem fortemente das exportações para os EUA podem enfrentar queda na demanda, o que pode obrigá-las a buscar novos mercados ou aumentar a oferta no mercado interno, pressionando preços e margens.
Desafios para a Indústria Brasileira
Segundo José Luiz Pimenta, diretor da BMJ Consultoria, o efeito imediato tende a ser a redução das exportações de aço e alumínio para os Estados Unidos. “O cenário exige que o Brasil diversifique seus mercados, o que não é simples, já que há forte concorrência, principalmente da China”, afirma.
Para a pesquisadora Lia Valls, da Fundação Getulio Vargas (FGV), uma possibilidade seria direcionar parte das exportações para o mercado asiático, sobretudo produtos semifaturados. Entretanto, ela destaca que ainda não está claro quais mercados poderiam absorver esse excedente de forma consistente.
No médio e longo prazo, o setor também pode enfrentar desafios no mercado de trabalho. “Menor demanda pode levar à redução da produção e, consequentemente, afetar empregos na siderurgia, transporte e mineração”, avalia o especialista em comércio exterior Jackson Campos.
Efeitos nas Empresas Brasileiras
De acordo com análise do Itaú BBA, empresas exportadoras que não estão listadas na bolsa brasileira, responsáveis por mais de 80% das vendas externas de aço, serão as mais impactadas. Multinacionais com operação no Brasil, como ArcelorMittal e Ternium, podem sentir os efeitos de forma mais intensa.
Por outro lado, companhias como Gerdau, Usiminas e CSN tendem a ser menos afetadas, já que possuem foco maior no mercado interno e nas Américas do Sul e Central.
Histórico de Tarifas
Esta não é a primeira vez que os Estados Unidos adotam medidas semelhantes. Durante seu primeiro mandato, Trump impôs tarifas sobre aço e alumínio em 2018, mas posteriormente flexibilizou as regras para alguns parceiros, como Brasil, Canadá e México, por meio de cotas de exportação.
O atual decreto retoma e amplia essa política, dobrando as tarifas. Segundo Trump, a medida visa estimular a produção interna e proteger os trabalhadores da indústria siderúrgica americana.
Perspectivas
A expectativa agora recai sobre eventuais negociações diplomáticas. Em ocasiões anteriores, o Brasil conseguiu acordos para flexibilizar tarifas por meio de cotas e negociações bilaterais. Contudo, até o momento, não houve manifestação oficial do governo brasileiro em relação à nova decisão.
O cenário permanece desafiador para o setor siderúrgico, que deverá buscar alternativas para mitigar os impactos das restrições impostas pelo governo norte-americano.