A recente ofensiva rebelde em Aleppo, liderada pelo grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS), colocou os Estados Unidos em uma posição delicada no tabuleiro geopolítico da Síria. Apesar de manter cerca de mil soldados no país como parte da missão contra o Estado Islâmico, Washington tem buscado se distanciar das operações no noroeste do país, enquanto lida com os desafios de equilibrar interesses regionais e evitar erros de cálculo em uma área de intensa atividade militar.
Distanciamento estratégico
O major-general Pat Ryder, secretário de imprensa do Pentágono, foi enfático ao afirmar que os EUA não têm envolvimento com as operações em Aleppo. A ofensiva, que resultou na captura da cidade pela primeira vez em anos, foi liderada pelo HTS, um grupo que os EUA classificam como terrorista desde 2018.
“Deixe-me esclarecer que os EUA não estão de forma alguma envolvidos nas operações que você vê acontecendo dentro e ao redor de Aleppo”, declarou Ryder, ressaltando que o HTS é uma organização terrorista designada. Ele reforçou ainda o pedido de desescalada do conflito.
Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional, também destacou o dilema americano. Em entrevista à CNN, ele reconheceu preocupações com os objetivos do HTS, mas indicou que Washington não lamenta as pressões enfrentadas pelo governo de Bashar al-Assad, que é apoiado por Rússia, Irã e Hezbollah.
“É uma situação complicada. Estamos monitorando de perto e mantendo contato próximo com parceiros regionais”, afirmou Sullivan, sinalizando a dificuldade de equilibrar a postura dos EUA diante de dois lados adversos.
Raízes do HTS e histórico conflituoso
O HTS, anteriormente vinculado à Al Qaeda sob o nome Jabhat al-Nusra, busca se distanciar de suas origens, mas permanece classificado como terrorista pelos EUA. Segundo Ryder, a evolução do grupo não alterou sua designação, e suas ações continuam sob intenso monitoramento.
O fundador do HTS, Abu Mohammad al-Jolani, liderou a transformação da Jabhat al-Nusra no grupo atual. Apesar de esforços para reformular sua imagem, o HTS segue sendo uma peça central no complexo cenário da guerra civil síria, representando desafios tanto para o regime de Assad quanto para a política externa americana.
Presença militar dos EUA e tensões no terreno
Enquanto tenta se desvincular da ofensiva em Aleppo, os EUA continuam enfrentando riscos diretos na Síria. Ryder confirmou ataques recentes contra instalações americanas no país, embora sem relatos de feridos ou danos significativos.
Na última sexta-feira, as forças americanas conduziram um “ataque de autodefesa” perto do MSS Euphrates, eliminando uma ameaça potencial à base dos EUA. Ryder enfatizou que essa ação foi “completamente alheia à situação atual no noroeste da Síria”.
Além disso, o Pentágono reforçou a importância de manter comunicações abertas com a Rússia, dado o estreito contato geográfico das operações militares de ambos os países na região. A linha direta entre os dois exércitos continua sendo usada para evitar erros de cálculo que possam levar a escaladas descontroladas.
Sanções e política externa
O Departamento de Estado americano reafirmou que as sanções ao regime de Assad permanecem inalteradas. Matthew Miller, porta-voz do departamento, destacou que o governo sírio não demonstrou nenhuma mudança de comportamento que justifique uma revisão dessa política.
Conclusão
O avanço do HTS em Aleppo ressalta a complexidade do envolvimento dos EUA na Síria. Washington enfrenta o desafio de combater o extremismo enquanto evita ser arrastada para confrontos indiretos com forças apoiadas por Rússia, Irã e Hezbollah. Nesse cenário, manter o equilíbrio entre segurança e diplomacia será essencial para evitar uma escalada que possa repercutir em todo o Oriente Médio.