EUA não precisam do Brasil, como disse Trump? Entenda a relação entre os países

A declaração do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que “o Brasil precisa mais dos EUA do que os EUA precisam do Brasil” reacendeu o debate sobre a relação entre as duas economias. Embora haja uma clara assimetria nessa parceria, com maior peso para os norte-americanos, especialistas apontam que o papel do Brasil na dinâmica econômica global não deve ser subestimado.

Comércio entre Brasil e Estados Unidos

Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China. Em 2024, as exportações brasileiras para os EUA totalizaram cerca de US$ 40,3 bilhões, com destaque para petróleo bruto, produtos semiacabados de ferro e aço, aeronaves e café não torrado. Já as importações somaram US$ 40,5 bilhões, sendo motores, máquinas, óleos combustíveis e aeronaves os principais itens comprados pelos brasileiros.

Embora a balança comercial seja relevante para o Brasil, o país ocupa uma posição mais modesta no comércio americano. Em 2024, o Brasil foi o 18º maior exportador para os EUA e o 9º maior importador de produtos americanos. Países como Vietnã, Malásia e Tailândia têm maior participação no mercado americano do que o Brasil.

Investimentos e turismo

Os EUA também são o principal investidor estrangeiro no Brasil. Em 2022, responderam por quase 30% do estoque de investimentos estrangeiros diretos no país, somando mais de US$ 228 bilhões. Em 2023, o número de investimentos anunciados por empresas americanas no Brasil aumentou 50%, refletindo o crescente interesse em áreas como tecnologia e economia verde.

No turismo, a relação é mútua, mas desigual. Em 2024, o Brasil enviou 1,5 milhão de turistas aos Estados Unidos, sendo o quinto maior país de outro continente a fazê-lo. Por outro lado, cerca de 572 mil americanos visitaram o Brasil no mesmo período, o que os coloca em segundo lugar, atrás apenas da Argentina.

A força da economia americana

Com um PIB de US$ 28 trilhões, a economia dos Estados Unidos é a maior do mundo, representando um impacto global difícil de ser ignorado. Já o Brasil, com um PIB de US$ 2 trilhões, possui um papel mais restrito nesse cenário. Essa diferença de escala reforça a assimetria na relação, como apontado por especialistas como Lucas Ferraz, da FGV.

Ferraz também destaca que as tarifas de importação brasileiras são maiores do que as americanas, o que pode tornar o comércio bilateral menos competitivo. Além disso, os produtos exportados pelo Brasil, como petróleo e aço, podem ser substituídos por outros fornecedores, o que deixa o país em uma posição de dependência comercial.

O papel estratégico do Brasil

Apesar das disparidades, o Brasil tem importância estratégica para os Estados Unidos, especialmente em setores como a indústria automobilística e a de equipamentos eletrônicos, onde a integração das cadeias produtivas é significativa. Segundo Leonardo Trevisan, professor de Relações Internacionais da ESPM, romper essa parceria seria “um incômodo significativo” para empresas americanas, que pagariam mais caro para relocar suas operações.

Além disso, o Brasil tem potencial para atrair mais investimentos americanos em energia limpa e tecnologia. Caso os EUA reduzam sua presença no país, especialistas alertam que a China pode ocupar esse espaço, o que seria contrário aos interesses estratégicos americanos.

Diversificação de parcerias comerciais

O momento de maior tensão comercial entre Brasil e EUA, fomentado pelas políticas protecionistas de Trump, também pode trazer oportunidades. A disposição da União Europeia para concluir um acordo com o Mercosul e o fortalecimento de laços com Canadá e México são exemplos de caminhos que o Brasil pode explorar para diversificar suas exportações e reduzir sua dependência dos Estados Unidos.

Embora seja verdade que o Brasil dependa mais dos EUA do que o contrário, a relação é de mão dupla e envolve décadas de integração econômica e estratégica. A afirmação de Trump reflete a disparidade econômica, mas ignora os laços históricos e o potencial do Brasil em áreas-chave. Para ambos os lados, manter uma relação equilibrada indica ser a melhor estratégia.

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