A Casa Branca está intensificando a pressão sobre o governo ucraniano para que modifique suas leis de mobilização e permita o recrutamento de jovens a partir de 18 anos para o serviço militar, com o objetivo de reforçar as tropas no campo de batalha contra a Rússia. A informação foi confirmada por um funcionário da administração Biden nesta quarta-feira (27), que falou à Associated Press sob condição de anonimato.
Atualmente, a idade mínima para a convocação de soldados na Ucrânia é de 25 anos, mas os Estados Unidos acreditam que a idade de recrutamento precisa ser reduzida para que o país consiga suprir sua grave desvantagem numérica frente às forças russas. O governo americano tem destacado que a Ucrânia enfrenta sérias dificuldades em substituir as perdas no campo de batalha, enquanto as tropas russas continuam a crescer em número e poder de fogo.
“É uma questão de pura matemática”, afirmou o oficial da Casa Branca. Segundo ele, a Ucrânia não está mobilizando soldados em quantidade suficiente para fazer frente ao exército russo. O país, embora conte com mais de 1 milhão de pessoas nas suas forças armadas, incluindo a Guarda Nacional e outras unidades, precisa urgentemente de mais recrutas para sustentar sua capacidade de combate.
Desafio no campo de batalha e aumento de apoio dos EUA
A pressão dos Estados Unidos também reflete uma crescente preocupação sobre a capacidade da Ucrânia de continuar a lutar a longo prazo. Desde o início da invasão russa, em fevereiro de 2022, os EUA enviaram mais de US$ 56 bilhões em assistência de segurança à Ucrânia, e a administração Biden já está preparando um novo pacote de US$ 725 milhões em ajuda militar, que deve ser anunciado até o fim de 2024. No entanto, além do armamento, Washington acredita que a questão central agora é o reforço no efetivo militar.
O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Sean Savett, afirmou que a administração continuará fornecendo armas, mas destacou que a principal necessidade da Ucrânia é aumentar a sua força de trabalho. “Estamos prontos para intensificar o treinamento, caso a Ucrânia tome as medidas apropriadas para preencher suas fileiras”, declarou Savett.
O governo ucraniano já havia solicitado a mobilização de cerca de 160 mil novos recrutas, mas a administração americana acredita que um número ainda maior será necessário para compensar as perdas e enfrentar o poderio militar da Rússia.
Resistência à redução da idade de recrutamento
Apesar da pressão dos aliados ocidentais, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, tem se mostrado resistente à ideia de reduzir ainda mais a idade mínima para o recrutamento. Em abril, o parlamento ucraniano aprovou leis que reduziram a idade mínima para o serviço militar de 27 para 25 anos e eliminaram algumas isenções ao serviço obrigatório. No entanto, Zelensky reiterou que não tem planos de baixar essa idade para 18 anos.
Fontes ucranianas indicam que, além da resistência interna, o país enfrenta desafios logísticos significativos para expandir sua mobilização. A falta de equipamentos adequados para treinar e armar um número maior de recrutas é apontada como uma das principais dificuldades. Um alto funcionário do governo ucraniano, que também pediu anonimato, afirmou que as autoridades locais veem a pressão por uma redução na idade de recrutamento como uma forma de desviar a atenção dos atrasos no fornecimento de armas por parte dos parceiros ocidentais.
Além disso, há preocupações dentro da Ucrânia sobre o impacto econômico de um recrutamento mais agressivo. A guerra já causou danos substanciais à economia do país, e a retirada de mais jovens da força de trabalho poderia agravar ainda mais essa crise.
Preocupações com a situação em Kursk
A situação no fronte de guerra se torna ainda mais complexa com o fortalecimento das forças russas e o envolvimento de novos aliados de Moscou, como a Coreia do Norte. Recentemente, tropas norte-coreanas chegaram à Rússia para apoiar a recuperação de territórios ocupados pelas forças ucranianas na região de Kursk, uma área estratégica na fronteira com a Ucrânia.
Aliados europeus da Ucrânia têm expressado preocupações de que a falta de efetivo possa tornar insustentável a continuidade da luta, especialmente em regiões de alta tensão como Kursk. O apoio dos EUA e de outros países ocidentais será crucial para que a Ucrânia mantenha sua capacidade de resistência, mas a questão do recrutamento segue sendo uma das maiores barreiras para garantir a vitória contra as forças russas.
Enquanto isso, a pressão sobre Zelensky para reconsiderar a idade mínima de mobilização continua a crescer, à medida que a Ucrânia enfrenta uma guerra prolongada e desafios significativos em todos os aspectos do conflito.