Após falas recentes, o risco fiscal no Brasil voltou ao radar, com parte do mercado duvidando de que medidas realmente serão tomadas para conter gastos. O Ibovespa, que vinha em uma sequência forte de valorizações até terça-feira (16), teve uma baixa considerável de 1,40% nesta quinta-feira (18), marcando um dia de realização mais forte.
Com investidores atentos às questões fiscais brasileiras e às eleições americanas, muitos aproveitaram para realizar lucros recentes, resultando em uma desvalorização significativa do índice e do real. O dólar subiu quase 2%, alcançando R$ 5,58.
Cenário Interno Gera Desconfiança
No cenário interno, a desconfiança do mercado em relação à política fiscal e monetária do Governo Federal aumentou novamente. Em junho, declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra o Banco Central e a necessidade de maior controle das contas públicas geraram preocupação. Em julho, tanto o presidente quanto integrantes do governo tentaram minimizar as polêmicas, sinalizando cortes de gastos. No entanto, em uma entrevista à Record na segunda-feira, Lula declarou que “precisa ser convencido de que cortar gastos é necessário”, o que gerou inquietação entre investidores.
Anderson Silva, especialista em mercado da GT Capital, comentou que a questão fiscal é a mais importante a ser monitorada no futuro próximo, provavelmente ditando as performances do Ibovespa e do câmbio. “Parecia que o governo tinha alinhado o discurso sobre corte de gastos, mas, nessa entrevista recente, o Lula disse que terá que ser convencido. Na minha visão, isso não pegou bem. Voltou a sinalizar uma indecisão para o mercado”, afirmou.
No final do dia, o governo anunciou uma contenção orçamentária de R$ 15 bilhões para cumprir o arcabouço fiscal. No entanto, o pregão já havia se encerrado. Alexsandro Nishimura, economista da Nomos, alertou que um valor abaixo de R$ 15 bilhões pode significar frustração e confirmação dos temores do mercado, que estima a necessidade de um contingenciamento próximo de R$ 30 bilhões para atingir a meta de déficit primário zero.
Incertezas nos Estados Unidos
Nos Estados Unidos, maior economia do mundo, incertezas também surgiram. O Washington Post reportou que o ex-presidente Barack Obama, uma figura influente no partido Democrata, teria dito a aliados que as chances de vitória de Joe Biden diminuíram e que ele precisa avaliar seriamente sua viabilidade como candidato na corrida presidencial deste ano.
Essas movimentações geram cautela no mercado. O índice VIX, conhecido como o “índice do medo”, subiu 10% hoje, indicando que investidores estão se preparando defensivamente. Os índices Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq também recuaram fortemente, com baixas de 1,29%, 0,78% e 0,70%, respectivamente.
Além das questões políticas, a economia norte-americana parece estar desacelerando, evidenciada pelo aumento no número de pedidos por seguro-desemprego. Embora isso possa abrir espaço para cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed), também impacta as ações em termos de projeções de lucro. Especialistas explicam que isso justifica o fato de o Dow Jones, mais conectado à “economia real”, ter caído mais do que os demais índices, que têm maior participação de empresas de tecnologia e crescimento.