Gustavo Petro: Milei e Trump São “Fascistas de Novo Tipo”, Emergindo do Medo da Mudança

Em entrevista exclusiva, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, fez duras críticas ao que chamou de uma onda de “fascismo de novo tipo”, representada por figuras como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o novo presidente da Argentina, Javier Milei. Para Petro, essas lideranças emergem de um medo coletivo causado pela crise econômica e pela iminente transformação das sociedades frente aos desafios climáticos e sociais.

Fascismo e Medo da Mudança

Petro foi enfático ao descrever o atual momento político global como uma reação ao medo da mudança. “Esses líderes representam um fascismo de novo tipo”, afirmou. Para o presidente colombiano, tanto Milei quanto Trump capitalizam o medo de uma parte significativa da população que teme perder privilégios econômicos e culturais, em um mundo cada vez mais marcado pelas mudanças climáticas e pela desigualdade social. “O fascismo clássico, como o de Hitler ou Mussolini, não era defensor do livre mercado. Milei e Trump, por outro lado, têm discursos distintos, mas em comum compartilham a mesma tentativa de eliminar a diferença, algo que tem raízes no medo”, declarou.

Petro também apontou que, enquanto a Argentina de Milei se volta para um ultraliberalismo ultrapassado, o próprio Trump, ao adotar uma política protecionista, também se afasta das ideologias neoliberais, o que, segundo ele, revela a falência do modelo econômico vigente. “O neoliberalismo morreu, é coisa do passado”, afirmou, destacando que o mundo está começando a abandonar esse paradigma, que ele considera responsável pela crise climática e pelo aumento das desigualdades.

A Luta pelo Multilateralismo e Contra o Veto na ONU

A conversa também abordou as questões globais no G20, onde Petro destacou a luta por um multilateralismo real, sem o poder de veto no Conselho de Segurança da ONU. “Não existe multilateralismo enquanto há poder de veto. Isso destrói qualquer possibilidade de um mundo mais justo”, opinou. Ele também criticou as Conferências do Clima (COP), que, para ele, precisam ser transformadas em decisões vinculativas, com medidas obrigatórias para todos os países.

Para Petro, a questão climática é o maior desafio global e, paradoxalmente, a falta de ação dos Estados Unidos, especialmente sob a administração Trump, contribui para o agravamento dessa crise. “A crise climática é a mãe de todos os problemas, e sem uma ação efetiva, vamos continuar a ver a fome, o êxodo e o colapso social”, disse, ressaltando a contradição do governo dos EUA em negar a mudança climática enquanto tenta conter a imigração.

A Venezuela e o Erro das Eleições

Em relação à Venezuela, Petro admitiu que sua aposta em eleições democráticas no país foi um erro, dada a realidade de um bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos e a falta de condições para um pleito livre e justo. “Não há voto livre com uma arma apontada para a cabeça. A Venezuela só conseguirá encontrar uma solução se houver o levantamento das sanções e garantias de eleições justas para todos os lados”, afirmou. O presidente colombiano defendeu uma solução política para o impasse venezuelano, ao mesmo tempo que criticou a postura das potências que, segundo ele, se interessam mais pelo petróleo da região do que pelo bem-estar da população.

Petróleo na Amazônia: Uma Contradição Fatal

Petro também se posicionou contra a exploração de petróleo na Amazônia, rebatendo a proposta do governo brasileiro de explorar a margem equatorial, na Foz do Rio Amazonas. “Petróleo e vida são antagônicos. Se você mata a selva, mata a humanidade. A Amazônia é um pilar climático do mundo. Se ela perecer, entramos no ponto sem retorno da crise climática”, alertou. Para o presidente colombiano, qualquer tentativa de exploração do petróleo na região representa uma contradição com a defesa do meio ambiente e coloca em risco a sobrevivência do planeta.

A Guerra às Drogas: Um Fracasso Global

A guerra às drogas também foi tema da entrevista, onde Petro criticou a política dos Estados Unidos e sua aplicação na Colômbia. Segundo ele, a “guerra contra as drogas” tem sido um fracasso retumbante, gerando mais violência, mortes e fortalecimento das mafias transnacionais, como o fentanil, que já mata mais que a cocaína. Petro sugeriu uma nova abordagem, semelhante à política de descriminalização da droga adotada por Portugal, onde a ênfase está na educação, e não na repressão. “Precisamos de uma mudança de estratégia, focando na redução do consumo por meio de políticas educacionais”, defendeu.

O Futuro da Esquerda e a Crise Climática

Petro também comentou a atual crise da esquerda global, especialmente em países como os Estados Unidos, onde os democratas perderam apoio popular, principalmente entre os jovens, em parte devido ao seu posicionamento em relação ao conflito em Gaza. “O progressismo precisa aprender com seus erros e se conectar novamente com as causas da juventude e dos trabalhadores”, afirmou. Ele também alertou para a crescente ascensão da extrema-direita, associando-a a um fascismo que se alimenta do medo, principalmente no contexto da crise econômica e climática.

Em um mundo cada vez mais polarizado, Gustavo Petro se posiciona como uma voz contra o neoliberalismo e as políticas que negligenciam a crise climática e social. Com um discurso que combina a luta pelo multilateralismo, a defesa dos direitos humanos e a urgência ambiental, o presidente da Colômbia deixa claro que, para ele, o futuro do planeta depende de uma mudança profunda no sistema econômico global.

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