Um caso chocante de abuso prolongado veio à tona em Waterbury, Connecticut (EUA), após o resgate de um homem de 32 anos que havia sido mantido em cativeiro por seu pai e madrasta desde os 12 anos. Pesando apenas 31 quilos, ele foi salvo após provocar um incêndio intencional na residência onde vivia trancado há duas décadas. O resgate aconteceu no fim do mês passado, quando bombeiros o encontraram caído na cozinha da casa, visivelmente debilitado e com sinais de extrema negligência.
Segundo as autoridades, a vítima era confinada em seu quarto por cerca de 23 horas por dia, sem acesso a cuidados médicos, alimentação adequada ou higiene. Ele contou aos paramédicos que não tomava banho há mais de um ano e que passava as necessidades em jornais ou pela janela. “Acabei me educando sozinho”, disse ele à polícia, relatando que passava o tempo lendo e pesquisando palavras em um pequeno dicionário.
O caso levanta questionamentos sobre falhas do sistema de proteção infantil. Durante a infância do rapaz, vizinhos, professores e o diretor de sua escola primária relataram suspeitas de negligência às autoridades. Apesar das diversas denúncias, o Departamento de Crianças e Famílias concluiu, na época, que a criança “estava bem”. O menino foi retirado da escola em 2005, com a justificativa de ensino domiciliar — que durou apenas alguns meses.
A madrasta, Kimberly Sullivan, de 57 anos, foi presa e indiciada por sequestro, agressão, crueldade contra menor, restrição ilegal e negligência criminosa. Ela nega todas as acusações e culpa o pai da vítima, Kregg Sullivan, que morreu em 2023. O advogado da acusada alegou que ela não tinha controle sobre a criação do enteado e que apenas o acompanhava nas decisões do marido. Kimberly também é mãe de duas filhas, que viviam na mesma casa e aparentemente tinham liberdade de locomoção. Elas não foram acusadas.
O ex-diretor da Escola Primária Barnard, Tom Pannone, contou que suspeitava do sofrimento da criança desde os primeiros anos escolares. “Você sabia que algo estava errado”, disse ele, lembrando que o menino, então com sete anos, comia no banheiro antes das aulas e chegou a ser visto bebendo água do mictório.
Após a morte do pai, o confinamento se intensificou. O homem relatou que a madrasta passou a impedi-lo de sair do quarto quase completamente. Foi então que, no fim de 2024, ele decidiu atear fogo à casa na tentativa de chamar atenção para sua situação. A tática funcionou.
Atualmente em recuperação em um centro médico de Connecticut, o homem está sob tutela legal e ainda não fez declarações públicas. Seu nome não foi divulgado para protegê-lo como vítima de violência doméstica. As investigações continuam, enquanto a comunidade e as autoridades tentam entender como esse horror silencioso pôde durar tanto tempo, à vista de tantos sinais ignorados.