Homem que atentou contra o STF planejava matar o ministro Alexandre de Moraes, segundo ex-esposa

Na quarta-feira, Francisco Wanderley Luiz, de 59 anos, lançou explosivos em direção ao STF, mas um dos artefatos detonou junto a ele, causando sua morte no local. A área foi isolada durante a madrugada, e o corpo do autor foi removido apenas na manhã seguinte. Equipes da Polícia Federal e da Polícia Civil, com apoio de robôs antibombas, ainda detonaram outros artefatos encontrados em locais próximos, incluindo um trailer que o homem havia alugado meses antes.

Antes do ataque, Wanderley publicou mensagens em suas redes sociais, anunciando o atentado e convocando para uma “revolução”, com início marcado para o dia 15 de novembro. Ele afirmou que explosivos estavam escondidos nas residências de autoridades, como o vice-presidente Geraldo Alckmin e os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e José Sarney, e que as bombas detonariam em 72 horas.

Além disso, nas postagens, o autor do atentado fez comparações da PF com forças de repressão da Alemanha nazista, como a Gestapo e a SS. Em um apelo inusitado, ele pediu ao recém eleito presidente americano Donald Trump uma “operação Storm” – uma referência a uma teoria da conspiração que defende uma operação fictícia para prender autoridades políticas. A Polícia Federal (PF), responsável pela investigação do caso, revelou que Wanderley planejava assassinar o ministro Alexandre de Moraes, conforme relato dado por sua ex-companheira, Daiane, localizada pela PF no interior de Santa Catarina.

Segundo Daiane, Wanderley compartilhava informações de suas pesquisas e planos sobre o ataque, incluindo detalhamentos sobre seus alvos. Ela afirmou aos agentes da PF que seu ex-marido tinha como principal objetivo matar Alexandre de Moraes e quem mais estivesse presente no momento do atentado. Daiane relatou que questionou Wanderley sobre sua intenção, ao ver o que ele pesquisava e planejava na internet: “Você vai mesmo fazer essa loucura?”, indagou, mas ele seguiu adiante com o plano.

Histórico de Ameaças e Participação em Grupos Radicais

Wanderley era conhecido por suas publicações nas redes sociais, onde ameaçava ministros do STF, políticos e outras figuras públicas. Ex-candidato a vereador pelo Partido Liberal (PL) de Santa Catarina, ele mantinha uma postura agressiva e extremista. De acordo com um informe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Wanderley estava em Brasília há meses e tinha feito postagens diretamente do plenário do STF, onde se vangloriava dizendo que haviam “deixado a raposa entrar no galinheiro”.

A participação de Wanderley em acampamentos em Santa Catarina, após a derrota de Bolsonaro nas eleições de 2022, e suas ligações com grupos radicais estão sendo investigadas. A PF busca entender o grau de conexão do autor com outras pessoas e organizações extremistas.

Plano de Atentado e Inscrições na Residência Alugada

Em uma casa alugada por Wanderley no Distrito Federal, a PF encontrou inscrições e mensagens que reforçam seu alinhamento com ações antidemocráticas. Em um espelho, ele deixou uma mensagem agressiva direcionada à Debora Rodrigues, condenada em 2023 após ser identificada por vandalizar a Estátua da Justiça, que ficava na frente do STF. A mensagem dizia: “DEBORA RODRIGUES, Por favor não desperdice batom. Isso é para deixar as mulheres bonitas. Estátua de merda se usa TNT.” A PF interpretou essa inscrição como uma ameaça direta e um recado àqueles que, como Rodrigues, haviam participado de ações de vandalismo.

Além disso, o próprio veículo de Wanderley circulava em Brasília desde o final de julho, de acordo com o relatório da Abin. Dias antes do atentado, ele estacionou seu carro no Anexo IV da Câmara dos Deputados, local próximo ao STF e à Praça dos Três Poderes.

Investigações da PF e da Abin Apontam Planejamento de Longo Prazo

A PF e a Abin indicaram que o ataque foi planejado com meses de antecedência, e os materiais usados nos artefatos explosivos apontam para um nível de organização elevado. Em seu veículo, foram encontrados fogos de artifício sobre uma estrutura de tijolos, organizados para canalizar a explosão em uma única direção, aumentando o potencial destrutivo.

Na casa alugada, os policiais descobriram uma “caixa” com mais materiais explosivos e outros itens que reforçam o planejamento minucioso de Wanderley. O diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, destacou que o atentado se insere em um contexto mais amplo de ações extremistas, e a instituição vê indícios de que grupos similares estão ativos no Brasil. Ele afirmou que “esses grupos extremistas estão ativos e precisam que nós atuemos de maneira enérgica. Não só a Polícia Federal, mas todo o sistema da Justiça Federal”.

Explosão de Gaveta e Preocupação com Novas Ameaças

Durante as buscas na residência de Wanderley, uma gaveta explodiu ao ser aberta por um robô antibombas da PF, indicando o risco constante a que estavam expostos os policiais na operação. Andrei Rodrigues explicou que o uso do robô foi essencial para evitar vítimas entre os agentes, dada a potência dos artefatos preparados pelo autor do atentado.

O caso está sendo tratado sob as vertentes de atentado contra o Estado Democrático de Direito e de ato terrorista, e será remetido para o Supremo Tribunal Federal (STF), que deve assumir o inquérito em razão da gravidade e dos alvos envolvidos.

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