A intensificação da rivalidade entre Estados Unidos e China no campo da inteligência artificial (IA) e cibersegurança está moldando as dinâmicas geopolíticas globais e criando novas oportunidades para países como o Brasil. A reeleição de Donald Trump para o mandato presidencial de 2025 a 2029 promete aprofundar essa disputa, com implicações significativas para o desenvolvimento tecnológico e a segurança nacional em diversos países.
IA como Prioridade Estratégica nos EUA
Desde seu primeiro mandato, Trump posicionou a inteligência artificial como um pilar da política de segurança nacional e competitividade econômica. Com iniciativas como a Ordem Executiva de 2019 e o Projeto de Lei sobre Iniciativa em IA de 2020, os Estados Unidos estabeleceram bases para pesquisa, desenvolvimento e aplicação de tecnologias de IA. Agora, espera-se que o segundo mandato intensifique esses esforços para consolidar o país como líder global na área.
A IA é vista não apenas como uma ferramenta de inovação, mas também como um instrumento estratégico na disputa de influência global, especialmente em regiões como América Latina, África e Sudeste Asiático. A competição com a China tem levado à criação de padrões regulatórios e práticas de mercado que afetam diretamente os países periféricos, como o Brasil.
Cibersegurança e Geopolítica
A segurança cibernética continua a ser uma prioridade tanto para os Estados Unidos quanto para a China. Durante seu primeiro mandato, Trump ampliou as capacidades do Comando Cibernético dos EUA e buscou cooperação com empresas de tecnologia para monitoramento de dados. Essa abordagem, no entanto, gerou preocupações sobre privacidade e direitos civis.
A China, por sua vez, tem desenvolvido sistemas avançados de cibersegurança e controle de informações, combinando tecnologia com uma abordagem de governança centralizada. Essa disputa reflete a crescente importância da segurança cibernética na geopolítica, com impactos sobre a economia digital e a soberania dos Estados.
Brasil: Potencial para Inovação e Diplomacia Tecnológica
Nesse cenário de rivalidade, o Brasil pode explorar oportunidades estratégicas, especialmente nas áreas de IA, segurança cibernética e finanças digitais. Entre os principais pontos de destaque estão:
- Infraestrutura Sustentável: O Brasil pode se posicionar como um hub regional de processamento de dados, aproveitando sua matriz energética renovável para atrair investimentos em data centers e infraestrutura tecnológica.
- Inovação Financeira: Com avanços como o PIX e a futura moeda digital Drex, o país já demonstra liderança global em soluções bancárias digitais, que podem ser expandidas para mercados globais.
- Fomento a Startups: A criação de políticas que incentivem startups locais pode fortalecer o ecossistema de inovação em IA e cibersegurança, aumentando a competitividade do Brasil no mercado global.
- Parcerias Estratégicas: O estabelecimento de colaborações entre governos, universidades e empresas pode ampliar a capacidade do país em tecnologias emergentes, fortalecendo sua posição global.
- Diplomacia Equilibrada: Manter relações estratégicas tanto com os EUA quanto com a China permitirá ao Brasil navegar nesse ambiente competitivo sem comprometer suas prioridades internas ou sua autonomia.
O Papel do Brasil no Contexto Global
Enquanto os EUA e a China competem pelo domínio tecnológico, o Brasil pode se destacar como mediador em fóruns internacionais, como o G20, os BRICS e a Organização Mundial do Comércio. Ao adotar uma abordagem pragmática e inovadora, o país tem a chance de transformar desafios globais em oportunidades locais, promovendo desenvolvimento sustentável e inclusão digital.
Por Fabricio Bertini Pasquot Polido
Sócio de Inovação e Tecnologia e professor associado da UFMG.