Organizações de ajuda humanitária acusam Israel de agravar a crise e não atender às exigências de Washington.
Em um relatório conjunto divulgado nesta terça-feira (12), um grupo de oito organizações internacionais de ajuda humanitária afirmou que Israel não atendeu aos critérios estabelecidos pelos Estados Unidos para melhorar a situação humanitária na Faixa de Gaza. As ONGs apontam que, em vez de apoiar a resposta humanitária, o governo israelense adotou medidas que exacerbaram ainda mais a crise na região.
O documento, que faz parte de uma avaliação realizada sobre as condições em Gaza, destaca que durante os 30 dias desde a carta enviada por Washington a Israel, não houve progressos significativos em várias frentes. Segundo as organizações, as forças israelenses atacaram repetidamente locais de ajuda humanitária e equipes de resgate. Pelo menos 14 trabalhadores humanitários foram mortos desde o início de outubro, sendo que quatro deles morreram diretamente durante o período de avaliação, de acordo com o relatório.
A carta de Washington, assinada pelo Secretário de Estado Antony Blinken e pelo Secretário de Defesa Lloyd Austin, havia dado um prazo de 30 dias para que Israel tomasse medidas concretas para aliviar a crise em Gaza, uma das mais graves da história recente. Entre as exigências estava a permissão para a entrada de um mínimo de 350 caminhões de ajuda humanitária por dia e a garantia de segurança para os trabalhadores e locais humanitários. No entanto, as ONGs afirmam que houve “não conformidade, atrasos significativos e retrocessos” em 15 das 20 medidas previstas.
“As forças israelenses atacaram repetidamente locais humanitários e equipes de resposta da linha de frente durante o período de 30 dias”, disseram as organizações. Além disso, a avaliação aponta que, ao menos 100 mil pessoas foram forçadas a deixar o norte de Gaza, buscando refúgio na Cidade de Gaza, enquanto outras 75 a 95 mil permanecem na região sob cerco, sem acesso a suprimentos médicos e alimentares.
Em entrevista, Kate Phillips-Barrasso, vice-presidente de política global da Mercy Corps, explicou que a falta de ajuda humanitária está tornando a situação insustentável. “As pessoas não estão apenas pulando refeições, elas estão fazendo uma refeição a cada dois dias, e é basicamente comida enlatada. Não há alimentos frescos”, declarou.
Além das falhas no cumprimento das exigências dos EUA, Israel também não instaurou “pausas adequadas” para a distribuição de ajuda, nem cumpriu a exigência de permitir o retorno de civis deslocados quando não havia necessidade operacional para a evacuação, segundo o relatório.
A situação em Gaza, particularmente no norte da região, tem sido descrita como “apocalíptica” por diversas organizações internacionais, que alertam para a iminência de uma crise de fome. Em 8 de novembro, um grupo de especialistas independentes declarou que há uma “forte probabilidade” de que a fome se torne uma realidade em várias áreas da Faixa de Gaza.
A falta de progressos também se reflete em um crescente impasse político. A Seção 620i da Lei de Assistência Estrangeira dos EUA exige que o governo norte-americano suspenda a assistência de segurança a países que obstruem a ajuda humanitária. As ONGs afirmam que a falta de compromisso de Israel com a implementação das medidas pode ter “implicações para a política norte-americana”, além de possíveis consequências legais, como alertado pelo Departamento de Estado dos EUA.
O governo israelense também foi criticado pela decisão de seu parlamento de votar para proibir a UNRWA, a agência da ONU para refugiados palestinos, de operar em Gaza. A medida foi amplamente condenada, com os EUA destacando que o papel da UNRWA é “insubstituível” na crise.
Em resposta, um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, afirmou na última semana que Washington continua em “discussões ativas” com o governo israelense sobre as ações necessárias para melhorar a situação humanitária. “Estamos avaliando as etapas que eles tomaram e o que mais precisam fazer”, disse ele, indicando que as próximas semanas serão decisivas.
O relatório das organizações humanitárias também sublinha que a eficácia de qualquer esforço internacional para aliviar a crise em Gaza dependerá da disposição dos EUA e de outros países de pressionar Israel a cumprir as exigências feitas para garantir a ajuda humanitária necessária à população local.
Com a situação em Gaza se deteriorando rapidamente, as organizações alertam que as consequências de uma falha no cumprimento dos critérios americanos podem ser desastrosas não apenas para a população de Gaza, mas também para a política internacional relacionada ao conflito.