A líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, rejeitou a proposta do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, de que a Venezuela realize novas eleições, classificando a sugestão como uma “falta de respeito” com os venezuelanos.
“A eleição já aconteceu”, disse María Corina Machado ao ser questionada por um grupo de jornalistas do Chile e da Argentina sobre a proposta de Lula para que ambas as partes considerassem um novo pleito para resolver o impasse político no país.
“Eu pergunto: vamos para uma segunda eleição e, se não gostarem do resultado, iremos para uma terceira? Quarta? Quinta? Até que o presidente Nicolás Maduro goste dos resultados? Vocês aceitariam isso em seus países, que, se o resultado não for satisfatório, repitam a eleição? Nós participamos da eleição seguindo as regras da tirania. Muitos me disseram que éramos loucos, que correríamos riscos e que haveria uma fraude monumental que não poderíamos provar. Algumas pessoas foram mortas ou estão hoje presas, escondidas ou tiveram que fugir do país. Não reconhecer o que aconteceu em 28 de julho, para mim, é uma falta de respeito com os venezuelanos que deram tudo de si e expressaram sua soberania popular”, afirmou a opositora.
Lula sugeriu repetir as eleições durante uma entrevista à rádio T FM, do Paraná, e disse que ligará para o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. “Se [Maduro] tiver bom senso, ele poderia fazer uma conclamação ao povo da Venezuela, quem sabe até convocar novas eleições, estabelecer um critério de participação de todos os candidatos, criar um comitê eleitoral suprapartidário, que participe todo mundo, e deixar que entrem observadores do mundo inteiro para ver as eleições”, disse Lula.
Há dois dias, fontes do governo brasileiro afirmaram ao jornal “Valor Econômico” que o Itamaraty estava considerando propor novas eleições na Venezuela. A informação foi confirmada pelo Blog da Julia Duailibi.
Também nesta quinta-feira, os presidentes Joe Biden, dos Estados Unidos, e Gustavo Petro, da Colômbia, disseram apoiar a ideia de novas eleições.
Segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela, Maduro foi reeleito com 52% dos votos, mas as atas eleitorais — documentos que registram os votos e os resultados em cada local de votação do país e que comprovariam o resultado — não foram divulgadas. O órgão alega que seu sistema foi hackeado.
A oposição venezuelana afirma que venceu as eleições com base na contagem das atas eleitorais, que dizem ter obtido acesso por meio de representantes enviados aos locais de votação. De acordo com a oposição, seu candidato, Edmundo González, venceu as eleições com 67% dos votos. O grupo criou um site com cópias digitalizadas de mais de 80% das atas. Uma contagem independente da agência de notícias Associated Press com as atas apresentadas no site apontou vitória de González com uma diferença de cerca de 500 mil votos.
A comunidade internacional contesta o resultado oficial.
O presidente Lula afirmou nesta quinta-feira (15) que “não quer se comportar de forma apaixonada ou precipitada” sobre os resultados das eleições na Venezuela, destacando que Nicolás Maduro “está devendo uma explicação para o Brasil e para o mundo”. Lula reforçou que “ainda não reconhece” a vitória de Maduro nas eleições.
“A relação com a Venezuela ficou deteriorada, porque a situação política do país está ficando deteriorada”, afirmou Lula. “Conversei com o Maduro antes das eleições, agora não conversei, mas disse para o Maduro que a transparência e a legitimidade do resultado é o que iria permitir que a gente continuasse brigando para que fossem suspensas as sanções contra a Venezuela”, prosseguiu.
Lula sugeriu que Maduro convoque a oposição para um governo de coalizão e destacou a importância de apresentação das atas com o resultado das eleições. “Eu não quero me comportar de forma apaixonada e precipitada, eu quero resultado”, concluiu.
As declarações de Lula foram dadas em entrevista à Rádio T FM, do Paraná.