O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se pronunciou nesta quarta-feira (27) sobre a recente polêmica envolvendo o agronegócio brasileiro e a França. Lula reafirmou seu compromisso com a conclusão do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, que enfrenta resistência principalmente da França, e declarou que “os franceses não apitam mais nada” nas negociações.
Acordo Mercosul-UE e tensão com a França
A declaração de Lula ocorre em meio a uma disputa acirrada. Na semana passada, o Carrefour, rede de supermercados francesa, anunciou que suspenderia a compra de carne do Mercosul, alegando a necessidade de proteger os agricultores franceses. A decisão provocou forte reação no Brasil, com pecuaristas ameaçando boicotar a empresa globalmente. O Carrefour acabou recuando após o incidente.
A carne brasileira também foi alvo de críticas na Assembleia Nacional da França, onde deputados rejeitaram simbolicamente o acordo Mercosul-UE. O deputado Vincent Trébuchet, da União Democrática Republicana (UDR), chegou a dizer que “nossos pratos não são latas de lixo”.
Lula, no entanto, minimizou a oposição francesa e destacou o papel da Comissão Europeia e da presidente Ursula von der Leyen no avanço das negociações. “Se os franceses não quiserem o acordo, eles não apitam mais nada. Quem apita é a Comissão Europeia”, afirmou o presidente. Lula disse ainda que pretende assinar o acordo até o fim deste ano: “Estou há 22 anos nisso e vou tirar isso da minha pauta.”
A próxima reunião do Mercosul está marcada para 6 de dezembro, no Uruguai, e o governo brasileiro acredita que ajustes finais podem ser firmados nesse encontro.
Expansão comercial e relações com os EUA
Durante o discurso, Lula também defendeu a busca por novos mercados para os produtos brasileiros, citando planos de visitar o Japão e o Vietnã com empresários em março de 2025. Ao comentar as relações com os Estados Unidos, o presidente enfatizou a soberania brasileira, mesmo diante da perspectiva de um governo mais protecionista com a volta de Donald Trump ao poder. “Não importa se o presidente é Trump, Biden ou Obama. O Brasil tem interesses soberanos, e os nossos interesses têm que convergir”, disse.
Crítica à taxa de juros
O presidente também voltou a criticar a atual taxa básica de juros, a Selic, fixada em 11,25% ao ano. Lula destacou que a inflação está controlada, a economia em crescimento e o desemprego em níveis historicamente baixos, o que, segundo ele, não justificaria os juros altos. Embora não tenha mencionado diretamente o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ou seu sucessor indicado, Gabriel Galípolo, Lula reiterou sua insatisfação com as decisões da autoridade monetária.
Contexto e impacto
A polêmica com a França ilustra a complexidade das negociações comerciais e os desafios do Brasil em equilibrar pressões externas com os interesses do agronegócio nacional. Enquanto o governo busca avançar no acordo Mercosul-UE, as críticas de Lula à França e ao sistema financeiro interno revelam as múltiplas frentes de disputa que o presidente enfrenta para fortalecer a economia brasileira e consolidar sua agenda internacional.