Maior greve de estivadores em 50 anos paralisa 36 portos dos EUA, afetando comércio e economia

Estivadores dos principais portos das costas Leste e do Golfo dos Estados Unidos iniciaram, na manhã desta terça-feira (1º de outubro), a maior greve da categoria em quase cinco décadas. O movimento ocorre após o fracasso das negociações de última hora entre o sindicato International Longshoremen’s Association (ILA) e a US Maritime Alliance (USMX), entidade que representa as operadoras marítimas. A greve ameaça impactar significativamente a economia americana e intensificar a tensão política a poucas semanas das eleições presidenciais.

Os 36 portos atingidos pela paralisação representam até metade do comércio exterior dos EUA, e a interrupção afeta imediatamente o desembaraço de contêineres e o transporte de automóveis. Suprimentos de energia e cargas a granel, no entanto, não foram diretamente afetados. Algumas operações, como o transporte de bens militares e navios de cruzeiro, foram excepcionalmente mantidas.

A importância dessa greve dependerá da sua duração. De acordo com estimativas do JPMorgan Chase & Co., a paralisação, que começou à meia-noite de terça-feira, poderá causar perdas econômicas diárias entre US$ 3,8 bilhões e US$ 4,5 bilhões. Um bloqueio nas operações portuárias por uma semana levaria até um mês para ser resolvido, segundo a economista Grace Zwemmer, da Oxford Economics.

Turbulências nas empresas e nas negociações

Com o início da greve, as ações das principais empresas de transporte marítimo, como A.P. Moller-Maersk A/S (Dinamarca) e Hapag-Lloyd AG (Alemanha), registraram queda nesta terça-feira, após ganhos de mais de 11% em setembro. A ILA, liderada por Harold Daggett, busca aumentos salariais e a revisão de cláusulas relacionadas à automação nos portos, em um contrato de seis anos que expirou na segunda-feira.

Daggett já havia ameaçado a greve há meses, caso não houvesse um acordo até o prazo final de 1º de outubro. A última paralisação dos estivadores nas regiões Leste e do Golfo ocorreu em 1977. “Estamos prontos para lutar pelo tempo que for necessário”, declarou Daggett em comunicado.

Por outro lado, a US Maritime Alliance acusou o sindicato de interromper as negociações desde junho. As conversas entre as partes haviam sido retomadas com envolvimento da Casa Branca, que mediou discussões sobre aumentos salariais no último fim de semana, mas sem sucesso.

Impacto econômico e apelo à intervenção presidencial

A greve ameaça causar um prejuízo de US$ 2,1 bilhões em comércio por dia, segundo a Associação Nacional de Fabricantes (NAM). Além disso, o impacto total poderia reduzir o PIB em até US$ 5 bilhões diários, levando grupos do setor de comércio e transporte a pressionarem a administração Biden a intervir. No entanto, o presidente Joe Biden afirmou que não usará sua autoridade sob as leis de segurança nacional para ordenar o retorno dos estivadores ao trabalho, defendendo que a questão deve ser resolvida por meio de negociação coletiva.

Enquanto líderes empresariais, como Suzanne Clark, CEO da Câmara de Comércio dos EUA, pedem que Biden invoque a Lei Taft-Hartley para adiar a greve e forçar um acordo, o sindicato Teamsters e Daggett alertaram que uma intervenção forçada resultaria em operações ainda mais lentas nos portos.

Consequências logísticas e política em jogo

Com a paralisação dos portos, as mercadorias já estão sendo redirecionadas para evitar maiores atrasos. Importadores adiantaram suas entregas ou optaram por utilizar portos na Costa Oeste. As operações portuárias e ferroviárias nas regiões afetadas foram interrompidas à meia-noite de segunda-feira.

O secretário de Transportes, Pete Buttigieg, ressaltou que a prioridade é que ambas as partes cheguem a um acordo para evitar maiores danos à economia e ao fluxo de mercadorias. “Não há realmente substituto para que os portos estejam operando”, disse Buttigieg.

Com as eleições presidenciais se aproximando, o cenário econômico gerado pela greve e a resposta do governo federal podem ter impactos decisivos no pleito, especialmente em estados chave, onde a movimentação portuária tem peso significativo.

Relacionadas

Últimas notícias