Mais de 100 voos com deportados dos EUA aterrissaram em Minas Gerais em 5 anos

Nos últimos cinco anos, mais de 100 voos fretados com brasileiros deportados dos Estados Unidos aterrissaram no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins, Minas Gerais. Segundo dados da Polícia Federal, mais de 7 mil brasileiros foram repatriados desde 2020, sendo a maioria trazida para o terminal mineiro, que se consolidou como o principal ponto de desembarque desses voos no país.

O fluxo de deportações é resultado de um acordo firmado em 2017 entre os governos dos Estados Unidos e do Brasil, durante as gestões de Donald Trump e do ex-presidente Michel Temer. O tratado prevê a repatriação de brasileiros em situação irregular nos EUA, cujos recursos legais já foram esgotados na Justiça americana, evitando que permaneçam detidos no país.

Voos e números

Entre 2019 e 2024, 119 aeronaves com deportados brasileiros chegaram a Confins. A maior parte dos voos ocorreu em 2022, com 42 pousos registrados. Confira a distribuição anual:

  • 2019: 1 voo
  • 2020: 21 voos
  • 2021: 24 voos
  • 2022: 42 voos
  • 2023: 14 voos
  • 2024: 17 voos (até o momento)

O último voo com deportados pousou em Belo Horizonte no sábado (25), marcando o retorno das deportações após a posse de Donald Trump para um novo mandato, em 20 de janeiro de 2024.

Leste de Minas: polo migratório

A escolha de Confins como principal destino não é aleatória. O aeroporto é o terminal internacional mais próximo da Região Leste de Minas Gerais, uma das áreas com maior fluxo migratório do Brasil. Segundo a doutora em Sociologia e Ciência Política da Univale, Sueli Siqueira, a migração de mineiros para os Estados Unidos começou na década de 1960, durante a ditadura militar, e se tornou cultural na região.

“Os primeiros mineiros que saíram de Governador Valadares foram em busca de melhores condições financeiras. Nos anos 1980, muitos tiveram sucesso durante o crescimento da economia americana. Hoje, embora não se ganhe tanto dinheiro, a ideia de migrar para os EUA permanece no imaginário popular”, explicou Sueli.

A pesquisadora destacou ainda a importância de políticas públicas para acolher os repatriados. “O imigrante não é um criminoso. É preciso oferecer atendimento psicológico e apoio para que eles se reestruturem no Brasil. Imagine passar anos trabalhando em outro país e, de repente, ter que recomeçar tudo aqui”, afirmou.

Acolhimento em Minas Gerais

A Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social de Minas Gerais (Sedese) informou que está trabalhando para garantir o acolhimento adequado aos repatriados. No último voo, os deportados receberam hospedagem em hotel e alimentação. Além disso, em dezembro de 2024, a Sedese assinou um Protocolo de Intenções com a Organização Internacional para as Migrações (OIM) para melhorar o atendimento a migrantes e repatriados.

O governo mineiro também lançou o “Guia de Atendimento a Pessoas Migrantes nos Serviços Públicos de Minas Gerais”, que orienta os municípios a oferecer uma acolhida humanizada e intercultural, conforme previsto na Política Estadual para a População de Migrantes, Refugiados, Apátridas e Retornados.

Novas regras contra imigração nos EUA

O novo mandato trouxe medidas ainda mais rígidas contra a imigração. Entre as ações anunciadas estão:

  • Restabelecimento da política “Permaneça no México”;
  • Retomada da construção do muro na fronteira com o México;
  • Pena de morte para imigrantes ilegais que cometerem assassinatos nos EUA;
  • Fim do asilo para quem cruza a fronteira ilegalmente;
  • Operação massiva de deportação de imigrantes ilegais;
  • Envio das Forças Armadas e da Guarda Nacional para a fronteira;
  • Classificação de cartéis de drogas como “organizações terroristas estrangeiras”.

Além disso, foram revogados decretos do governo anterior que permitiam a reunificação de famílias de imigrantes separadas na fronteira e suspendeu o direito automático à cidadania para nascidos em território americano.

Impacto nas comunidades mineiras

A deportação de milhares de brasileiros tem impactado diretamente as comunidades do Leste de Minas Gerais, onde muitas famílias dependem das remessas enviadas por parentes que trabalham nos EUA. Com o aumento das deportações e as novas restrições, a região enfrenta o desafio de reintegrar os repatriados e ajudá-los a reconstruir suas vidas no Brasil.

Enquanto isso, o aeroporto de Confins segue como um símbolo desse fluxo migratório reverso, recebendo voos que trazem de volta brasileiros que um dia deixaram o país em busca do sonho americano.

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