O deputado republicano Matt Gaetz, forte aliado do ex-presidente Donald Trump, anunciou nesta quinta-feira (21) que desistiu de sua nomeação para o cargo de procurador-geral dos Estados Unidos. A decisão ocorre em meio a crescentes controvérsias sobre acusações de envolvimento em um esquema de tráfico sexual e investigações em andamento sobre má conduta sexual e uso de drogas ilegais. A nomeação de Gaetz ainda precisaria passar pela aprovação do Senado, mas a desistência antecipa uma possível dificuldade em conquistar o apoio necessário.
Gaetz, que foi reeleito para o quinto mandato na Câmara dos Representantes pela Flórida, é alvo de uma investigação no Comitê de Ética da Casa devido a alegações de que teria pago para fazer sexo com uma jovem de 17 anos, acusação que ele nega veementemente. A desistência da nomeação foi comunicada em uma nota publicada em sua conta na rede social X, onde o deputado afirmou que sua confirmação estava se tornando uma “distração injusta” para os trabalhos da transição de governo de Trump e seu potencial sucessor, Mike Vance. “Não há tempo a perder com uma polêmica desnecessária em Washington”, disse Gaetz, que optou por retirar seu nome para não prejudicar a agenda política do ex-presidente.
A decisão ocorre apenas um dia após o Comitê de Ética da Câmara entrar em impasse sobre a divulgação de um relatório que investigaria alegações de má conduta sexual envolvendo Gaetz, e logo depois de reuniões com senadores republicanos, cuja aprovação seria necessária para que ele assumisse o cargo de procurador-geral. A posição seria central na administração de Trump, caso o ex-presidente retorne à Casa Branca, e é vista como uma chave para os planos de Trump de reverter ações legais contra ele e seus aliados.
Um cargo estratégico na nova administração Trump
O círculo íntimo de Trump considera o cargo de procurador-geral um dos mais importantes da nova administração, superando apenas a própria presidência. Além de possibilitar ações em áreas como deportação em massa e combate ao crime organizado, o procurador-geral seria fundamental para implementar uma agenda de “vingança” contra aqueles que processaram Trump nos últimos anos, incluindo o caso dos ataques de 6 de janeiro de 2021.
Trump, que ficou irritado com o que chamou de “obstrução” por parte dos procuradores-gerais durante seu primeiro mandato, busca alguém em quem confie plenamente para lidar com o Departamento de Justiça. “Matt irá acabar com o uso político do governo, proteger nossas fronteiras, desmantelar organizações criminosas e restaurar a fé e confiança dos americanos na Justiça, que foram severamente abaladas”, afirmou Trump em um comunicado no último dia 13.
Durante o governo Trump, os procuradores-gerais Jeff Sessions e Bill Barr se tornaram alvos de críticas do ex-presidente. Sessions foi responsabilizado por autorizar investigações sobre possíveis contatos entre a campanha de Trump e a Rússia, enquanto Barr rejeitou alegações de fraude nas eleições de 2020.
Gaetz e sua relação controversa com o Partido Republicano
Dentro do Partido Republicano, Matt Gaetz é uma figura altamente polarizadora. Embora seja um dos maiores defensores de Trump, sua trajetória política tem gerado divisões dentro de seu próprio partido. Em 2023, Gaetz se destacou ao derrubar o então presidente da Câmara, Kevin McCarthy, considerado um republicano moderado. Além disso, em julho deste ano, Gaetz apresentou um projeto de lei que buscava limitar as penas severas para aqueles investigados no ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021, um gesto que foi amplamente interpretado como um apoio aos insurretos e uma tentativa de reabilitar figuras do movimento “stop the steal”.
Apesar de seu apoio incondicional a Trump, Gaetz é visto por muitos dentro do Partido Republicano como um traidor, especialmente devido à sua postura agressiva contra membros mais moderados e ao seu envolvimento em escândalos pessoais. A desistência da nomeação para procurador-geral coloca um ponto final em sua tentativa de alcançar um cargo-chave na possível administração Trump, mas as investigações sobre suas ações ainda estão longe de um desfecho.