Nova Tarifa de Trump sobre Navios Chineses Gera Alerta

Uma nova proposta de tarifa sobre navios chineses, anunciada pelo Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR), tem gerado grande preocupação entre empresas e especialistas do comércio global. A medida, que visa reduzir a dominância da China nos setores de construção naval, logística e transporte marítimo, está sendo chamada de “apocalipse comercial” por empresários que alertam para uma série de efeitos negativos, como aumento nos custos de frete, inflação e o desvio de rotas comerciais para o Canadá e México, o que pode prejudicar portos menores nos Estados Unidos.

A proposta, que pretende aplicar multas milionárias a navios chineses que atracam em portos dos EUA, já afeta negócios internacionais. Um exemplo claro é o caso de um lote de 16 mil toneladas de tubos de aço que deveria ser enviado da Alemanha para um projeto de energia na Louisiana. Devido à incerteza sobre as novas tarifas, o carregamento foi suspenso e a carga permanece em um armazém alemão. A rota envolvia navios de armadores com 80% da frota construída na China, o que poderia resultar em sobretaxas de entre US$ 1 milhão e US$ 3 milhões, dobrando ou até triplicando o valor do frete.

A proposta do USTR visa combater o crescente poder da China no mercado global de transporte marítimo, onde o país responde por mais da metade da tonelagem mundial de navios cargueiros. Em comparação, em 1999, a China representava apenas 5% da frota mundial. Ao mesmo tempo, a produção naval dos Estados Unidos está em declínio: no ano passado, os estaleiros americanos construíram apenas 0,01% da frota global. O USTR espera que a medida contribua para reativar a indústria naval dos EUA, atualmente em uma posição muito inferior à da China, Japão e Coreia do Sul, os maiores construtores navais.

A reação da indústria, porém, tem sido de grande preocupação. Jonathan Gold, vice-presidente da Federação Nacional de Varejo, afirmou que a nova tarifa representa uma ameaça ainda maior à cadeia de suprimentos do que as tarifas anteriores do governo Trump. De acordo com Gold, armadores já indicaram que repassariam os custos adicionais aos consumidores e poderiam até deixar de operar em portos menores dos EUA, como os de Oakland, Charleston e Filadélfia, o que afetaria negativamente a economia local e o comércio.

Parlamentares também têm se mostrado preocupados com as consequências dessa medida. A deputada Debbie Dingell, por exemplo, destacou que os Estados Unidos perderam mais de 70 mil empregos no setor naval e atualmente ocupam a 19ª posição no ranking global de construção naval. Ela ressaltou que, enquanto os estaleiros chineses produzem mais de mil embarcações comerciais anualmente, os EUA fabricam menos de 10. Dingell defendeu uma exigência gradual para que uma parte das exportações americanas seja transportada em embarcações com bandeira, tripulação e fabricação americana, visando reindustrializar o setor naval nos EUA.

Especialistas apontam que a proposta, longe de ajudar a reativar a indústria naval dos EUA, pode causar grandes danos à economia do país. Além do aumento do custo do frete e da inflação interna, a medida pode levar a uma perda de competitividade nas exportações americanas, além de sobrecarregar os grandes portos e desviar rotas comerciais para países vizinhos como o Canadá e o México.

Segundo a Clarksons Research Services Ltd., consultoria especializada em pesquisa naval, a aplicação da tarifa poderia gerar entre US$ 40 bilhões e US$ 52 bilhões aos cofres dos EUA. No entanto, esse benefício financeiro pode ser superado pelos impactos negativos na infraestrutura portuária e na competitividade das exportações americanas, resultando em um cenário de incerteza para o comércio global.

A medida está no centro das audiências do USTR, que envolvem todos os elos da cadeia produtiva, de produtores de soja a armadores e estaleiros chineses. Empresários e líderes do setor têm enfatizado que a proposta poderá causar uma disrupção muito maior no comércio global do que as tarifas comerciais anteriores, alertando para um “apocalipse comercial” que pode afetar os negócios e as economias em escala global.

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