A morte de José Arturo González Mendoza, em 2023, enquanto trabalhava sob o calor intenso de uma fazenda de batatas-doces na Carolina do Norte, revela os riscos que muitos migrantes enfrentam nos Estados Unidos. O falecimento de Mendoza, forçado a trabalhar mesmo após relatar mal-estar, é um exemplo trágico das condições extremas que trabalhadores estrangeiros suportam em busca de uma vida melhor.
Hugo, um trabalhador migrante que presenciou a morte de Mendoza, descreve o cenário angustiante. “Ele dizia que estava morrendo, mas eles continuaram forçando-o a trabalhar”, relata. Mendoza desmaiou e, uma hora depois, estava morto. A fazenda Barnes Farming Corporation, onde ele trabalhava, foi multada pelas condições perigosas relatadas pelo Departamento do Trabalho da Carolina do Norte, que também apontou a negligência dos supervisores, que não chamaram assistência médica a tempo.
Mendoza, de 29 anos, deixou esposa e filhos no México em busca do “sonho americano”. Assim como ele, muitos migrantes veem na imigração a única saída para uma vida melhor, assumindo trabalhos extenuantes e perigosos, muitas vezes invisíveis ao público. Agricultores, trabalhadores da construção civil e ajudantes de cozinha frequentemente enfrentam jornadas longas em ambientes insalubres, com salários baixos e pouco ou nenhum direito trabalhista.
Condições de Trabalho Mortais
A morte de Mendoza ocorre em um contexto mais amplo de negligência e exploração de trabalhadores imigrantes nos Estados Unidos. Relatórios federais revelam que o setor agrícola tem a maior taxa de mortalidade entre todos os ambientes de trabalho, seguido pelos setores de transporte e construção civil. Em 2023, mortes de trabalhadores migrantes foram amplamente divulgadas, destacando a insegurança desses empregos. Em março, seis trabalhadores latino-americanos morreram em Maryland, enquanto consertavam uma ponte que desabou. Meses depois, um acidente de ônibus na Flórida, transportando trabalhadores agrícolas, resultou em oito mortes.
Os migrantes com visto H2A, como Mendoza e Hugo, formam uma grande parte da força de trabalho agrícola dos EUA. Esses vistos permitem a entrada temporária de trabalhadores estrangeiros para atividades sazonais, principalmente na agricultura. Entre 2017 e 2022, o número de trabalhadores com esse visto aumentou em 64,7%, refletindo a dependência do país em mão de obra estrangeira para esses trabalhos.
No entanto, as condições de trabalho são frequentemente precárias. Em uma investigação federal de 2020, descobriu-se que trabalhadores com visto H2A em alguns estados dos EUA viviam em condições análogas à “escravidão moderna”. Casos de tráfico de pessoas e exploração de migrantes são recorrentes, expondo a ganância daqueles que se aproveitam da vulnerabilidade de trabalhadores desesperados.
A Vulnerabilidade dos Indocumentados
Os migrantes sem documentos, que representam quase metade da força de trabalho agrícola, enfrentam desafios ainda maiores. De acordo com especialistas, esses trabalhadores estão concentrados nos empregos mais perigosos e com menos proteção. Olga, uma trabalhadora de uma fazenda de laticínios no Vermont, conta que viu sua irmã quase morrer após ser pisoteada por uma vaca. Mesmo gravemente ferida, o patrão exigiu que ela retornasse ao trabalho imediatamente.
Essas histórias de abuso e exploração são comuns no setor agrícola, onde os riscos vão desde a exposição a substâncias tóxicas até acidentes graves com máquinas e animais. Mesmo com a implementação de novas regras trabalhistas, a retórica anti-imigração e o medo de represálias impedem muitos trabalhadores de reivindicarem seus direitos.
Retórica Anti-imigração e Riscos Aumentados
A retórica política em torno da imigração, alimentada por discursos anti-imigrantes, como os de Donald Trump, que chamou a imigração ilegal de “invasão”, exacerba as dificuldades enfrentadas por esses trabalhadores. A discriminação e o preconceito aumentam a vulnerabilidade dos migrantes, que muitas vezes sofrem em silêncio com medo de serem deportados ou de perderem seus empregos.
Para Hugo e tantos outros migrantes, a luta por uma vida melhor nos Estados Unidos vem com um preço alto. As esperanças de construir um futuro para suas famílias são frequentemente esmagadas por condições de trabalho desumanas, discriminação e a ameaça constante de violência. “Estamos sempre sendo atacados por sermos migrantes”, lamenta Olga. “Eles deveriam ver o que fazemos para sobreviver neste país.”
Enquanto o “sonho americano” continua a atrair milhares de pessoas para os Estados Unidos, as tragédias como a de Mendoza evidenciam o lado sombrio dessa promessa, onde a busca por uma vida melhor pode, tragicamente, custar a própria vida.