A decisão do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, de autorizar a Ucrânia a utilizar mísseis de longo alcance para atacar o território russo intensificou as tensões internacionais, provocando fortes reações do governo e da imprensa pró-Kremlin.
O Rossiyskaya Gazeta, veículo oficial do governo russo, classificou a medida como “uma das decisões mais provocativas e não calculadas” da administração Biden, alertando para “consequências catastróficas”. Políticos russos reforçaram essa visão, com Leonid Slutsky, líder do Partido Liberal Democrático, afirmando que a decisão levará a uma “grave escalada”, enquanto o senador Vladimir Dzhabarov a descreveu como um movimento que “abre caminho para a Terceira Guerra Mundial”.
O Kremlin também reagiu. Dmitry Peskov, porta-voz de Vladimir Putin, declarou que a decisão marca uma “nova espiral de tensão” e acusou os Estados Unidos de alimentarem o conflito. Contudo, o presidente Putin ainda não se pronunciou diretamente sobre o assunto, embora seus alertas prévios ao Ocidente indiquem o potencial de uma resposta firme.
O que Putin já disse sobre mísseis de longo alcance
Nos últimos meses, Putin reiterou que considerar ataques ao território russo com armamento de longo alcance fornecido pelo Ocidente seria equivalente à “participação direta” dos países da OTAN no conflito. Em setembro, o Kremlin sinalizou possíveis mudanças na doutrina nuclear russa, sugerindo maior flexibilidade no uso de armas nucleares em situações como esta.
Putin também indicou, em ocasiões anteriores, que Moscou poderia retaliar fornecendo armas avançadas a adversários do Ocidente, ampliando conflitos em outras regiões. Durante uma reunião em junho, Putin sugeriu a possibilidade de apoiar forças hostis aos interesses ocidentais com armamento semelhante. Essa estratégia foi reforçada por Alexander Lukashenko, líder de Belarus e aliado próximo de Putin, que mencionou possíveis transferências de sistemas de mísseis para grupos como os houthis no Iêmen.
Escalada ou contenção?
Embora a retórica na Rússia esteja aquecida, alguns veículos da imprensa minimizam os impactos imediatos. Especialistas citados pelo Izvestia argumentaram que as Forças Armadas russas já demonstraram capacidade de interceptar mísseis ATACMS, sugerindo que a decisão de Biden pode ser revista com a posse de Donald Trump, presidente eleito dos EUA, que adota uma postura mais cética em relação ao apoio militar à Ucrânia.
Essa transição de poder nos Estados Unidos pode ser um fator crucial nos cálculos de Putin. O Kremlin sabe que o governo de Trump tende a buscar uma abordagem menos confrontacional, o que pode levar Moscou a moderar sua resposta no curto prazo, enquanto avalia os próximos movimentos do Ocidente.
Cenários possíveis
A reação de Putin dependerá de múltiplos fatores, como o impacto real dos mísseis de longo alcance no campo de batalha e a posição de aliados estratégicos. Entre os cenários possíveis estão:
- Intensificação militar: Melhoria dos sistemas de defesa aérea, reforço das tropas na linha de frente e ataques retaliatórios em território ucraniano.
- Contraofensivas indiretas: Fornecimento de armas a aliados anti-Ocidente em regiões como o Oriente Médio, ampliando tensões globais.
- Pressão diplomática e retórica: Uso de ameaças e anúncios de mudanças na doutrina militar para forçar negociações ou desestabilizar o apoio ocidental à Ucrânia.
Conclusão
A decisão dos EUA intensificou a crise e colocou o Kremlin em uma posição delicada. Putin, um estrategista que equilibra retórica e ação, deve pesar cuidadosamente suas respostas para evitar um confronto direto com a OTAN, ao mesmo tempo em que mantém sua posição firme no conflito. O mundo observa com atenção, aguardando os próximos movimentos do líder russo.