O Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa brasileira, está ampliando sua atuação nos Estados Unidos, utilizando imigrantes ilegais para expandir suas operações de lavagem de dinheiro, tráfico de armas e drogas. Segundo o Gaeco do Ministério Público de São Paulo, o PCC conta com aproximadamente 42 mil membros, sendo mil deles atuando fora do Brasil. Autoridades americanas e brasileiras classificam esses membros como “soldados” do crime.
A facção, que surgiu nas prisões brasileiras, tem usado os EUA como refúgio para seus integrantes fugirem da justiça brasileira, além de explorar o país como plataforma para suas operações ilícitas. Embora o tráfico de cocaína em direção aos Estados Unidos seja controlado por cartéis mexicanos, a polícia brasileira investiga tentativas do PCC de inserir-se nesse mercado, ainda que de maneira limitada.
Alerta crescente de autoridades
O avanço do PCC nos Estados Unidos tem sido monitorado por mais de uma década, mas nos últimos anos, os serviços de inteligência americanos identificaram um número crescente de faccionados entrando ilegalmente no país. A cidade de Miami, na Flórida, é um dos principais focos, mas a facção também foi detectada em Massachusetts e Pensilvânia, regiões com grandes comunidades brasileiras.
Relatórios da Operação de Fiscalização e Remoção (ERO) dos EUA indicam um aumento de prisões de membros do PCC, especialmente na área de Boston. Esses indivíduos têm sido deportados ao Brasil, mas as investigações continuam revelando uma presença crescente.
Entre os exemplos está um brasileiro de 42 anos, preso nos Estados Unidos em agosto de 2023, acusado de participar de um esquema de lavagem de dinheiro que movimentou cerca de R$ 1,2 bilhão para a facção. Essa prisão é parte de uma investigação maior que vincula o PCC a operações financeiras em bancos americanos e chineses, com o objetivo de financiar o tráfico de armas.
Expansão global e operações nos EUA
Com uma extensa rede de atuação pela América Latina e uma presença global em crescimento, o PCC é hoje uma das organizações criminosas mais influentes da região, segundo Brian Nelson, subsecretário do Tesouro dos EUA para Terrorismo e Inteligência Financeira. Desde 2014, o PCC vem usando contas em bancos americanos para movimentar grandes quantidades de dinheiro, inicialmente destinado à compra de armas, mas agora também associado a negócios imobiliários e pequenos comércios nos EUA, como forma de legitimar fundos ilícitos.
Nos últimos anos, o PCC tem tentado eliminar intermediários em suas operações de tráfico de drogas e armas, controlando diretamente mais fases do processo e reduzindo conflitos com outros grupos. Investigadores acreditam que a facção já estaria operando refinarias de cocaína em países andinos, embora em pequena escala, além de realizar parcerias estratégicas com outros grupos criminosos.
Em 2019, a polícia americana identificou uma célula do PCC operando em Massachusetts, batizada de “Primeiro Comando de Massachusetts”. O grupo, composto por 14 brasileiros, foi responsável por crimes violentos, tráfico de drogas e armas, sequestros e roubos, e apesar de prisões e deportações, a célula não foi completamente desarticulada.
Resposta das autoridades americanas
O governo dos Estados Unidos reconhece que a presença do PCC não é nova, mas o crescimento da facção tem levado a um aumento das sanções e medidas de controle. Em 2021, o presidente Joe Biden assinou uma ordem executiva para aplicar penalidades a indivíduos e organizações criminosas envolvidos no tráfico de drogas. O PCC foi um dos grupos incluídos, com membros tendo seus bens e propriedades bloqueados em território americano.
Em março de 2023, o Departamento do Tesouro dos EUA anunciou novas sanções contra um operador do PCC, acusado de lavar centenas de milhões de dólares para a facção. Essas medidas fazem parte de uma parceria entre o Tesouro americano e o Ministério Público de São Paulo, que buscam intensificar o combate às organizações criminosas transnacionais.
Desafios futuros
Com o avanço do PCC nos EUA, as autoridades americanas estão cada vez mais preocupadas com a possível expansão do grupo para o tráfico de opioides sintéticos, como o fentanil. Embora o PCC ainda esteja focado principalmente na cocaína, a facilidade de movimentação de fentanil e o aumento das mortes por overdose nos EUA tornaram o controle desse mercado um tema crítico para as autoridades.
O promotor Lincoln Gakiya, do Gaeco, reforça que o crescimento do PCC foi subestimado pelas autoridades brasileiras nos primeiros anos, o que permitiu que a facção se expandisse internacionalmente. Hoje, o PCC representa uma ameaça não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, com uma estrutura cada vez mais complexa e ramificações globais.
A colaboração entre as autoridades brasileiras e americanas será essencial para combater essa expansão e limitar o impacto da facção nos Estados Unidos e em outros continentes.