Por que furacões como Milton perdem força ao tocar o solo?

O furacão Milton atingiu a Flórida na noite de quarta-feira (9), causando alagamentos e deixando um rastro de destruição e mortes. No entanto, após tocar o solo, Milton começou a perder força, e agora segue em direção ao Oceano Atlântico, onde deve se transformar em uma tempestade tropical. Mas por que furacões perdem intensidade ao entrar em terra firme?

De acordo com especialistas, os furacões dependem da evaporação das águas quentes do oceano para se manterem “vivos”. “A principal razão para o enfraquecimento dos furacões ao chegarem à terra é a perda dessa fonte de energia”, explica Andra Garner, professora de Ciências Ambientais da Universidade de Rowan, nos EUA.

Dependência das águas quentes

Enquanto os furacões estão sobre o oceano, especialmente em águas quentes como as da região do Golfo do México, eles se alimentam do calor liberado pela evaporação da água. Esse processo gera um ciclo contínuo de formação de nuvens e ventos intensos, mantendo o furacão em atividade. Quando tocam o solo, a tempestade é cortada dessa fonte de energia vital, resultando em uma redução na circulação dos ventos e na quantidade de umidade disponível.

“O ar sobre a terra é mais seco e contém mais partículas, o que também contribui para o enfraquecimento do furacão, interrompendo sua dinâmica interna”, acrescenta Garner.

Impacto do cisalhamento do vento

Outro fator que contribui para a perda de força dos furacões ao atingirem o continente é o cisalhamento vertical do vento. Esse fenômeno é a mudança na direção ou velocidade do vento em diferentes altitudes, o que pode desestabilizar o furacão. Quando o furacão encontra ventos de diferentes velocidades e direções, o ar seco se mistura à tempestade, impedindo que ela se intensifique ainda mais.

Segundo o meteorologista Fábio Luengo, da Climatempo, “os furacões precisam de um oceano muito quente para ganhar força. Ao tocar a terra, eles perdem essa fonte de calor e enfrentam obstáculos físicos, como montanhas e florestas, o que também contribui para a sua rápida dissipação.”

Reforço ao voltar para o oceano

Ainda que os furacões enfraqueçam ao tocar o solo, se voltarem para o oceano, eles podem se reintensificar, como é o caso de Milton. “Se o furacão retorna para o mar e encontra águas quentes novamente, ele pode ganhar força e causar mais danos”, destaca Luengo.

Aquecimento dos oceanos e furacões mais intensos

O aumento da temperatura dos oceanos tem potencializado a formação de furacões mais intensos. Um estudo publicado na Scientific Reports em 2023 mostra que as tempestades no Atlântico têm o dobro de chance de se intensificarem rapidamente, como aconteceu com Milton, que se tornou a terceira tempestade de intensificação mais rápida no Atlântico este ano. O aquecimento global está elevando a temperatura das águas oceânicas, proporcionando mais energia para os ciclones tropicais.

Essa combinação de oceanos aquecidos e condições atmosféricas favoráveis indica que os furacões continuarão a representar um grande desafio para as áreas costeiras.

La Niña e a formação de furacões

Outro fator que influencia a formação de furacões é o fenômeno La Niña, que diminui o cisalhamento dos ventos e favorece a formação de tempestades. Com a transição para esse fenômeno prevista para o final do ano, os meteorologistas esperam um aumento no número de furacões.

Embora o furacão Milton tenha perdido força ao atingir a terra, seu impacto devastador na Flórida é mais um exemplo da importância de entender como esses fenômenos naturais se formam e como podem se intensificar ou enfraquecer dependendo das condições ambientais.

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