O território americano não possui votos no Colégio Eleitoral, mas porto-riquenhos que vivem nos EUA têm peso considerável no pleito.
A poucos dias das eleições presidenciais dos Estados Unidos, a ilha de Porto Rico virou assunto de grande repercussão após o comediante Tony Hinchcliffe fazer declarações polêmicas em um comício de Donald Trump em Nova York. Durante o evento, Hinchcliffe descreveu Porto Rico como uma “ilha flutuante de lixo no meio do oceano”. As declarações inflamaram debates e mobilizaram líderes e artistas, provocando uma onda de indignação no país.
Porto Rico, embora seja um território dos Estados Unidos desde o fim do século XIX, não é oficialmente um estado americano, mas sim um “território não incorporado”. Isso significa que a ilha não possui direito a votos no Colégio Eleitoral e, portanto, não tem urnas nas eleições presidenciais. Contudo, porto-riquenhos que residem nos Estados Unidos têm o direito de votar, o que faz com que o grupo exerça influência decisiva em estados-pêndulo, especialmente na Pensilvânia e no Arizona.
Impacto nos Estados Decisivos
Nos Estados Unidos, cada estado possui um número de delegados no Colégio Eleitoral, e é necessário que um candidato acumule 270 desses delegados para vencer a eleição. Pensilvânia e Arizona, ambos com uma quantidade significativa de porto-riquenhos, são considerados essenciais para os candidatos, pois não têm um histórico claro de favoritismo entre republicanos e democratas.
A Pensilvânia, por exemplo, abriga aproximadamente 450 mil porto-riquenhos, formando o maior grupo de eleitores latinos do estado. Em 2020, Joe Biden venceu na região com uma margem apertada de 80 mil votos. Já o Arizona, com 855 mil eleitores latinos, registrou uma vitória de Biden com apenas 10 mil votos de diferença. Esse cenário mostra como pequenos grupos podem fazer a diferença em um contexto de indecisão e empate técnico.
Com as recentes declarações ofensivas, democratas como Kamala Harris, a principal adversária de Trump, têm aproveitado o momento para atrair os porto-riquenhos que se sentiram ofendidos. Kamala já publicou um vídeo em que promete “desenhar um caminho novo e feliz para o futuro” de Porto Rico.
Repercussão e Reações
Os comentários de Hinchcliffe repercutiram em toda a comunidade latina. Artistas como Bad Bunny, Jennifer Lopez e Ricky Martin declararam apoio a Kamala Harris e expressaram indignação com a fala do comediante. O governador de Porto Rico, Pedro Pierluisi, também se pronunciou: “Lixo é o que saiu da boca do comediante”, afirmou em suas redes sociais. Pierluisi destacou que comentários como esses expõem o racismo e o preconceito ainda presentes no país e pediu que todos os que aplaudiram o comediante se sentissem envergonhados.
A campanha de Trump, por sua vez, afirmou que as declarações do humorista não representam a opinião do ex-presidente, em uma tentativa de minimizar o impacto das declarações.
Possível Efeito nas Urnas
Pesquisas indicam um empate técnico entre Trump e Harris na Pensilvânia e no Arizona, refletindo a polarização e a incerteza em torno dos resultados. A irritação gerada pela fala de Hinchcliffe pode levar porto-riquenhos e outros latinos a reforçarem seu apoio a Kamala Harris, o que pode ser decisivo para o resultado da eleição. Se os democratas conseguirem consolidar essa base de eleitores, os 30 delegados somados desses dois estados poderão levar Harris à vitória.
O episódio mostra como questões identitárias e ofensas étnicas podem ter um impacto direto no comportamento dos eleitores, especialmente em um cenário tão dividido como o atual. Porto Rico, ainda que sem urnas, mais uma vez demonstra seu papel estratégico nas eleições americanas, influenciando o futuro do país de uma maneira inesperada e significativa.