Procurador-geral da Venezuela afirma que Edmundo González ‘será preso automaticamente’ se retornar ao país

O procurador-geral da Venezuela, Tarek Saab, declarou que o opositor Edmundo González, atualmente em asilo político na Espanha, será detido imediatamente caso tente retornar à Venezuela, onde ele reivindica ter vencido a eleição presidencial de 28 de julho, derrotando o presidente Nicolás Maduro. Em entrevista à agência AFP, Saab afirmou que González “sabe que, se entrar na Venezuela, será automaticamente detido”, devido às acusações que pesam sobre ele, incluindo crimes como falsificação de documentos e instigação à desobediência.

González, que fugiu para a Espanha em setembro após um mandado de prisão ser emitido contra ele, anunciou em outubro que pretende retornar ao país em 10 de janeiro, data que considera como o dia de sua posse como “presidente eleito”. Ele já declarou que sua estadia em solo espanhol é temporária e que voltará para assumir a presidência e restaurar a democracia na Venezuela. “Voltarei à Venezuela o mais rápido possível”, disse ele em um evento empresarial em Madrid, reforçando sua intenção de tomar posse como chefe de Estado em janeiro.

Disputa eleitoral e acusações de fraude

A eleição de julho, que reelegeria Nicolás Maduro para um terceiro mandato de seis anos, foi amplamente contestada pela oposição e pela comunidade internacional. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), órgão controlado pelo regime de Maduro, declarou Maduro como vencedor, mas não publicou as atas eleitorais, o que gerou suspeitas de fraude e falta de transparência no processo. A oposição, liderada por figuras como María Corina Machado e Edmundo González, denuncia que o verdadeiro vencedor foi o próprio González, e publicou em um site as atas de cerca de 80% das urnas, apontando sua vitória com mais de 67% dos votos.

O Centro Carter, que observou as eleições, também divulgou informações que reforçam a alegação de fraude. Em um relatório apresentado à Organização dos Estados Americanos (OEA), a representante do Centro Carter, Jennie Lincoln, afirmou que as “atas originais” das eleições demonstram que González foi de fato o vencedor, com uma diferença significativa de votos em relação a Maduro. De acordo com Lincoln, os dados extraídos das atas originais indicam que González obteve 67% dos votos, enquanto Maduro teria recebido apenas 31%.

Acusações contra líderes opositores

Além de González, a oposição também enfrenta investigações por parte do governo de Maduro. María Corina Machado, outra líder oposicionista, está sendo investigada por sua alegada participação em manifestações populares pós-eleitorais, que foram duramente reprimidas pelas autoridades. O procurador-geral Tarek Saab, no entanto, evitou esclarecer se há um mandado de prisão contra Machado, limitando-se a afirmar que ela está sendo investigada.

O governo de Maduro acusa a oposição de instigar um clima de violência e desobediência à ordem constitucional, e alega que tanto Machado quanto González são responsáveis por incitar distúrbios em todo o país após a divulgação do resultado oficial da eleição. Além disso, o Ministério Público venezuelano quer a prisão de González por, entre outros crimes, falsificação de documentos públicos relacionados à divulgação das atas eleitorais contestadas.

Consequências internacionais e apoio à oposição

A comunidade internacional, especialmente os Estados Unidos e a União Europeia, têm pressionado por maior transparência e um processo eleitoral mais justo na Venezuela. O fato de que observadores internacionais como o Centro Carter e a ONU tenham relatado irregularidades no pleito de julho tem gerado crescente apoio à oposição e à narrativa de que Maduro teria manipulado o processo eleitoral.

Porém, apesar das evidências apresentadas pelas organizações internacionais e pela oposição, o regime de Maduro tem mantido o controle sobre o país e continua a acusar os opositores de desestabilizar a ordem pública. A situação de Edmundo González, que se declara presidente eleito, é emblemática da polarização política no país, onde a crise institucional continua a desafiar os esforços de reconciliação e democracia.

Com o retorno de González ao país prometido para janeiro, a tensão política na Venezuela promete se intensificar, principalmente diante da ameaça de prisão iminente que ele enfrenta ao tentar assumir o cargo de presidente.

Relacionadas

Últimas notícias