Rússia Alerta EUA Sobre Possíveis Testes Nucleares Sob Governo Trump

Sergei Ryabkov, vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, adverte que Moscou manterá “opções em aberto” em resposta a postura hostil dos Estados Unidos.

Moscou, 27 de outubro de 2024 — O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, que supervisiona as políticas de controle de armas nucleares do país, emitiu um alerta direto ao governo dos Estados Unidos nesta sexta-feira (27). Ele advertiu que, caso os Estados Unidos retomem os testes nucleares sob a administração do ex-presidente Donald Trump, a Rússia não descartaria a possibilidade de realizar testes próprios, ampliando ainda mais o risco de uma nova era de corrida armamentista nuclear.

Em uma entrevista ao jornal russo Kommersant, Ryabkov afirmou que a situação internacional é “extremamente difícil”, e criticou a postura “extremamente hostil” adotada pelo governo americano. O vice-ministro também ressaltou que, durante seu primeiro mandato, Trump já havia manifestado uma posição radical em relação ao Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares (CTBT), o que aumentaria a probabilidade de uma escalada nas tensões nucleares entre as duas potências.

“A política americana em seus vários aspectos é extremamente hostil a nós hoje”, disse Ryabkov. “Portanto, as opções para agirmos no interesse de garantir a segurança e as medidas e ações potenciais que temos para fazer isso — e enviar sinais politicamente apropriados… não descarta nada”, completou o vice-ministro, deixando clara a possibilidade de uma retaliação russa caso os testes sejam retomados pelos EUA.

Risco de Uma Nova Era de Testes Nucleares

A retomada dos testes nucleares pelas duas maiores potências nucleares do mundo — Estados Unidos e Rússia — poderia marcar o retorno de uma era perigosa, que remonta aos primeiros testes nucleares realizados no século XX. Em julho de 1945, os Estados Unidos detonaram a primeira bomba nuclear em Alamogordo, Novo México, inaugurando uma série de testes ao longo de várias décadas. Desde então, mais de 2.000 testes nucleares foram realizados até a assinatura do CTBT, em 1996, um tratado internacional que proíbe todas as explosões nucleares para fins de teste.

No entanto, os tratados de controle de armas nucleares, que foram a base da segurança global durante a Guerra Fria, estão atualmente em declínio. Rússia, Estados Unidos e China estão modernizando seus arsenais nucleares, enquanto o CTBT, que havia sido ratificado pela Rússia em 2000, foi formalmente revogado por Vladimir Putin em 2023. Isso alinha a Rússia com os Estados Unidos, que, embora tenham assinado o tratado em 1996, nunca o ratificaram.

Durante o primeiro mandato de Trump, de 2017 a 2021, a administração americana chegou a discutir a possibilidade de realizar o primeiro teste nuclear dos EUA desde 1992. Embora o governo tenha se abstido de realizar o teste, especula-se que a retomada dos testes possa ser vista como uma medida para desenvolver novas armas nucleares e sinalizar força a adversários como a Rússia e a China.

Armas Nucleares e o Equilíbrio Global

Atualmente, a Rússia e os Estados Unidos detêm mais de 10.000 ogivas nucleares juntas, representando cerca de 88% do estoque global de armas nucleares. De acordo com a Federação de Cientistas Americanos, a Rússia possui aproximadamente 5.580 ogivas nucleares, enquanto os EUA detêm cerca de 5.044. A China, terceira maior potência nuclear, possui cerca de 500 ogivas. Esses números destacam o desequilíbrio de poder nuclear que poderia ser ainda mais ampliado com a retomada de testes.

O CTBT, que foi assinado por mais de 180 países, é visto como um pilar fundamental para a não proliferação de armas nucleares e a segurança global. O tratado foi um marco histórico após décadas de testes que deixaram cicatrizes no meio ambiente e na saúde humana. A União Soviética, a antecessora da Rússia, realizou seu último teste nuclear em 1990. Desde o fim da Guerra Fria, apenas alguns países realizaram testes nucleares, incluindo a Coreia do Norte, que conduziu seu último teste em 2017.

O Jogo de Forças Globais

O presidente Vladimir Putin já sinalizou que a Rússia consideraria realizar testes nucleares caso os Estados Unidos retomem esse tipo de atividade. No mês passado, Putin também reduziu o limite para o uso de armas nucleares, indicando que a Rússia poderia empregar um ataque nuclear em resposta a uma gama mais ampla de ameaças convencionais, como o recente uso de mísseis ATACMS, fabricados nos EUA, contra alvos russos na Ucrânia.

Em um cenário de crescente tensão e incerteza, o medo de uma nova corrida armamentista nuclear é real. Especialistas em controle de armas alertam para os perigos de uma escalada, que poderia ter consequências devastadoras para a segurança internacional.

O futuro do controle de armas nucleares depende não apenas das decisões de líderes como Trump e Putin, mas também da disposição de outras potências nucleares, como a China e a França, de manter a estabilidade do sistema global de não proliferação. A continuidade dos esforços diplomáticos será essencial para evitar que a história das armas nucleares se repita de forma catastrófica.

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