ISTAMBUL — 2 de junho de 2025 — A Rússia apresentou oficialmente à Ucrânia um memorando com suas condições para um cessar-fogo no conflito em curso, exigindo o reconhecimento de 20% do território ucraniano como parte do território russo. A proposta foi entregue durante a segunda rodada de negociações diretas entre os dois países, realizada nesta segunda-feira em Istambul, na Turquia.
De acordo com agências estatais russas como Tass, Interfax e RIA Novosti, o documento reitera demandas que já haviam sido feitas anteriormente por Moscou. Entre as principais condições estão:
- Reconhecimento da Crimeia, Lugansk, Donetsk, Zaporizhzhia e Kherson como territórios da Federação Russa;
- Retirada total das tropas ucranianas dessas regiões;
- Fim do fornecimento de armas e inteligência por países ocidentais à Ucrânia;
- Realização de eleições internas na Ucrânia;
- Limitação do tamanho e da capacidade do Exército ucraniano;
- Proibição do desenvolvimento ou presença de armas nucleares em solo ucraniano.
A proposta não menciona explicitamente a exigência de que a Ucrânia abandone seu objetivo de adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), embora Moscou já tenha defendido publicamente essa condição em momentos anteriores.
Caso as exigências sejam atendidas, o documento prevê a assinatura de um acordo de paz abrangente, a suspensão mútua das sanções econômicas e a retomada das relações comerciais, incluindo o fluxo de gás natural entre os dois países.
Resposta da Ucrânia
O governo ucraniano, representado pelo ministro da Defesa, Rustem Umerov, confirmou o recebimento do documento e afirmou que a proposta será analisada no prazo de uma semana. Umerov acrescentou que as delegações devem se reunir novamente até o fim de junho para uma terceira rodada de negociações.
Até o momento, Kiev se mantém firme em sua posição de não ceder território. O presidente Volodymyr Zelensky reiterou no passado que a integridade territorial da Ucrânia é inegociável e que o país continuará buscando o direito de aderir à OTAN.
Troca de prisioneiros e cenário militar
Apesar das divergências, os dois lados chegaram a um acordo para uma nova troca de prisioneiros de guerra e de corpos de soldados. Serão incluídos todos os prisioneiros com até 25 anos de idade, gravemente feridos ou doentes, além da repatriação de aproximadamente 6 mil corpos de cada lado.
A nova rodada de negociações ocorreu após uma escalada significativa nos ataques. No domingo (1º), a Ucrânia realizou uma ofensiva inédita contra bases militares em território russo, atingindo diretamente quatro instalações e danificando dezenas de aviões de combate. O Serviço de Segurança Ucraniano (SBU) afirma que mais de 40 aeronaves russas foram destruídas.
Em resposta, a Rússia lançou o maior ataque com drones da guerra até agora, com mais de 470 projéteis disparados contra cidades e posições ucranianas.
Perspectivas e impasses
Apesar da retomada do diálogo, as perspectivas de um acordo de paz imediato ainda são incertas. Enquanto Moscou insiste em condições que considera fundamentais para sua segurança nacional, Kiev exige garantias concretas — como a retirada total das tropas russas e o retorno das crianças ucranianas deportadas — para considerar qualquer cessar-fogo.
A guerra, iniciada em fevereiro de 2022, já resultou em dezenas de milhares de mortes e continua sem um horizonte claro de encerramento. As negociações em Istambul reúnem novamente os principais representantes de cada lado: Vladimir Medinski, conselheiro de Vladimir Putin, lidera a delegação russa, enquanto Rustem Umerov comanda o grupo ucraniano.
A comunidade internacional acompanha com atenção os desdobramentos do processo, embora ainda haja grande distância entre as posições dos dois países.