Na segunda-feira (20), o presidente dos Estados Unidos, Donald J. Trump, anunciou que o país não fará mais parte da Organização Mundial da Saúde (OMS), uma agência especializada da Organização das Nações Unidas (ONU). A decisão foi oficializada por meio de uma ordem executiva assinada logo após a posse de Trump para seu segundo mandato. Segundo o presidente, a OMS “exige pagamentos injustamente onerosos” dos EUA e falhou em áreas como a gestão da pandemia de Covid-19.
A medida reacende debates sobre o papel dos Estados Unidos no sistema de saúde global e o impacto dessa saída para os demais países.
O Papel da OMS e Sua Autoridade
Fundada em 1948 e sediada em Genebra, na Suíça, a OMS é responsável por coordenar esforços globais de saúde, como o combate a doenças transmissíveis e não transmissíveis. Com mais de 190 países-membros, a organização atua em áreas como prevenção de epidemias, vigilância sanitária e pesquisa médica. A influência da OMS depende, contudo, da colaboração voluntária dos países-membros, que transferem poder e recursos financeiros para o organismo.
Segundo Gonzalo Vecina, médico sanitarista e ex-presidente da Anvisa, organismos multilaterais como a OMS enfrentam limitações devido à necessidade de consenso entre seus membros. Apesar disso, ele ressalta que tais instituições desempenham papel fundamental na construção de uma cooperação global mais harmoniosa.
Impactos da Saída dos EUA
A saída dos EUA, principal financiador da OMS, gera preocupações sobre a continuidade de programas vitais. Atualmente, os EUA contribuem com cerca de US$ 550 milhões anuais para a organização, valor que representa uma parcela significativa do orçamento da OMS. Segundo Vitelio Brustolin, professor de Relações Internacionais da UFF, o corte desses recursos prejudicará a implementação de iniciativas em países emergentes e comprometerá a colaboração entre centros de pesquisa dos EUA e a OMS.
Brustolin também alerta para o risco de um efeito em cadeia, no qual outros países possam seguir o exemplo americano, enfraquecendo ainda mais o sistema internacional de saúde. “A saída dos EUA é um golpe duro no sistema internacional pós-Segunda Guerra Mundial”, afirma o especialista.
A China, segundo Vecina, tem potencial para ocupar o vácuo deixado pelos EUA na OMS, consolidando sua influência global, especialmente em áreas como desenvolvimento de vacinas e pesquisa em saúde.
Repercussão Internacional
A decisão de Trump também atende a pressões internas de grupos que criticam a atuação da OMS durante a pandemia de Covid-19. Segundo Denilde Holzhacker, professora de Relações Internacionais da ESPM, a medida reflete interesses de setores antivacina e outras alas conservadoras que apoiaram Trump em sua campanha presidencial.
Em resposta, o porta-voz da OMS, Tarik Jašarević, expressou pesar pela decisão e fez um apelo para que os EUA reconsiderem. “Esperamos que haja um diálogo construtivo para o benefício de todos”, afirmou.
Perspectivas Futuras
Embora Trump tenha maioria no Congresso, a saída formal da OMS exige negociações, já que a adesão à organização foi ratificada em 1948. Especialistas apontam que a OMS poderia propor redução nos custos de participação dos EUA como forma de evitar a ruptura.
A decisão também levanta questionamentos sobre o futuro da colaboração internacional em saúde e o papel de liderança global dos Estados Unidos. Enquanto isso, países-membros da OMS e organizações não governamentais precisarão buscar formas de suprir o vácuo financeiro e político deixado pela saída norte americana.