Seis pacientes que passaram por transplantes no Rio de Janeiro testaram positivo para o HIV após receberem órgãos contaminados de dois doadores. O caso, considerado inédito na história do sistema de transplantes do estado, está a ser investigado por várias autoridades, incluindo o Ministério da Saúde, o Ministério Público do RJ (MPRJ), a Polícia Civil e o Conselho Regional de Medicina (Cremerj).

O erro foi causado por diagnósticos incorretos realizados pelo laboratório privado PCS Lab Saleme, que havia sido contratado em dezembro de 2023 pela Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ) para realizar exames de sorologia de órgãos doados. Este laboratório, localizado em Nova Iguaçu, foi interditado após a descoberta do incidente.

Investigação e Consequências

A SES-RJ confirmou a situação e está a tomar medidas para investigar o caso. Uma comissão multidisciplinar foi criada para prestar apoio aos pacientes afetados. Além disso, a Coordenadoria Estadual de Transplantes e a Vigilância Sanitária Estadual também interditaram o laboratório responsável pelos exames errados. A Delegacia do Consumidor (Decon) da Polícia Civil está a conduzir investigações criminais, e a 5ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva da Saúde do MPRJ instaurou um inquérito civil.

Segundo informações iniciais, o laboratório PCS Lab Saleme não possuía kits adequados para a realização dos exames de HIV e não apresentou documentação que comprovasse a compra dos materiais necessários, levantando suspeitas de que os exames podem ter sido forjados. O laboratório afirmou que abriu uma sindicância interna para investigar o caso.

Descoberta e Impacto

O caso veio à tona no dia 10 de setembro, quando um dos pacientes transplantados, que havia recebido um coração em janeiro, procurou atendimento hospitalar com sintomas neurológicos e foi diagnosticado com HIV, apesar de não ter o vírus antes do transplante. A contraprova feita pela SES-RJ revelou que os órgãos estavam contaminados com HIV, levando à descoberta de outros cinco pacientes que também testaram positivo após receberem rins e outros órgãos dos mesmos doadores.

Um segundo erro foi identificado após um novo transplante em maio deste ano. Outro paciente, que também não tinha o vírus antes da cirurgia, apresentou sintomas semelhantes e testou positivo para HIV no início de outubro.

Medidas Adotadas

Após a descoberta do incidente, a Secretaria Estadual de Saúde transferiu todos os exames de sorologia dos doadores para o Hemorio, uma unidade de saúde estadual, e iniciou um processo de reavaliação das amostras de sangue de 286 doadores, armazenadas desde dezembro de 2023.

A secretária estadual de Saúde, Cláudia Mello, classificou o incidente como “inadmissível” e reafirmou o compromisso de garantir a segurança dos futuros transplantados. A SES-RJ destacou ainda que o serviço de transplantes no estado já salvou mais de 16 mil vidas desde 2006, mantendo um histórico de excelência até ao presente incidente.

O laboratório PCS Lab comprometeu-se a fornecer suporte médico e psicológico aos pacientes afetados e seus familiares, ao mesmo tempo que se disponibilizou para colaborar com as autoridades nas investigações.