Setores-chave da economia dos EUA alertam para impacto da falta de imigrantes, e Trump acena com possível flexibilização

A escassez de trabalhadores imigrantes nos Estados Unidos tem gerado preocupação em setores fundamentais da economia, como agricultura, hotelaria, restaurantes e construção civil. Em resposta às pressões de empresários e especialistas, o presidente Donald Trump sinalizou nas últimas semanas uma possível abertura para facilitar o retorno legal de imigrantes que deixarem voluntariamente o país.

Durante entrevista ao canal Fox Noticias, em espanhol, Trump mencionou a criação de um programa de autodeportação que ofereceria incentivos financeiros e passagens aéreas para que imigrantes em situação irregular deixem os EUA por conta própria. Segundo o presidente, esses trabalhadores poderiam, posteriormente, solicitar o retorno ao país de forma legal, desde que tivessem um empregador responsável por sua reentrada. “Vamos ser muito compreensivos… talvez deixar esse fazendeiro assumir a responsabilidade”, disse Trump, em referência a empregadores do setor agrícola.

A proposta surge em meio a crescentes críticas à política migratória mais rígida adotada pelo governo. Na semana passada, a Coalizão de Imigração de Empresas Americanas, que reúne mais de 300 lideranças empresariais, realizou uma série de reuniões com autoridades em Washington para alertar sobre os riscos da escassez de mão de obra.

De acordo com o Pew Research Center, imigrantes em situação irregular representavam 4,8% da força de trabalho americana em 2022 — o equivalente a 8,3 milhões de pessoas. No entanto, sua participação é significativamente maior em setores como construção civil (13,7%), agricultura (12,7%) e hospitalidade, que inclui hotéis e restaurantes (7,1%).

Economistas alertam que a continuidade da política de restrições pode impactar diretamente a produtividade e os preços no país. Um relatório do American Enterprise Institute, centro de pesquisa de tendência conservadora, destaca que a redução abrupta da disponibilidade de mão de obra imigrante pode levar a falências em massa no setor agrícola, além de provocar aumento nos custos dos alimentos e redução na variedade de produtos disponíveis ao consumidor.

Adam Posen, presidente do Instituto Peterson de Economia Internacional, também alertou para os riscos: “Não há substituto para imigrantes no setor imobiliário americano”, afirmou, destacando que metade dos trabalhadores em pequenas construtoras familiares são estrangeiros, muitos deles sem documentação legal.

O banco Goldman Sachs, em relatório publicado ainda em fevereiro, já havia classificado a falta de imigrantes como “extremamente disruptiva” para setores como agricultura, processamento de alimentos e construção civil. A instituição alertou para possíveis gargalos na produção, escassez de produtos e elevação dos preços como efeitos colaterais imediatos.

Apesar das possíveis consequências econômicas, o governo Trump segue tentando equilibrar sua política de imigração com as demandas de empregadores. A fala recente do presidente indica uma tentativa de acomodar essas pressões sem abandonar completamente a retórica de controle migratório que tem marcado sua gestão. Resta saber se e como tais propostas serão implementadas, e de que forma o Congresso e o setor privado reagirão.

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