Nesta semana, o mercado financeiro global se prepara para a “Superquarta” de 2024, quando os bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos anunciam suas decisões sobre as taxas de juros. Em uma virada interessante, enquanto o Banco Central dos EUA (Federal Reserve) deve iniciar um ciclo de cortes nas taxas de juros, o Banco Central do Brasil (BC) provavelmente aumentará as suas, refletindo realidades econômicas distintas.
Federal Reserve: início de um ciclo de corte de juros
O Federal Reserve, que vem mantendo as taxas de juros no nível mais alto em mais de 20 anos para combater a inflação pós-pandemia, deve finalmente iniciar uma trajetória de corte. Esse movimento é amplamente esperado desde que o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou, no Simpósio de Jackson Hole, em agosto, que “chegou a hora de mudar a política monetária” dos EUA. Powell também destacou que há espaço para reduções graduais das taxas.
O mercado prevê que o primeiro corte será de 0,25 ponto percentual (p.p.), levando os juros atuais de 5,25% – 5,50% ao ano para 5,00% – 5,25%. Alguns analistas mais otimistas esperam até um corte maior, de 0,50 p.p., mas Powell tem mantido cautela, sem dar pistas claras sobre o tamanho ou o ritmo das reduções.
Essa mudança nos juros americanos é uma resposta ao controle da inflação, que caiu para 2,5% ao ano, perto da meta do Fed de 2%. A geração de empregos também desacelerou, com a taxa de desemprego subindo para 4,2% em agosto. Apesar disso, a economia americana permanece forte, com o PIB crescendo 3% no segundo trimestre de 2024, o que mantém o Fed cauteloso para evitar uma recessão ao ajustar as taxas.
Brasil: aumento dos juros em meio a incertezas
Enquanto os EUA se preparam para cortar os juros, o Banco Central do Brasil deve tomar uma direção oposta. Após um ciclo de cortes iniciado em 2023, o BC interrompeu as reduções devido à piora das expectativas de inflação e deve, nesta Superquarta, aumentar a taxa Selic para 11,25% ao ano — um aumento de 0,75 p.p. em relação à taxa atual.
Apesar do crescimento econômico robusto e da queda no desemprego, o Brasil enfrenta pressões inflacionárias, em parte alimentadas pela desvalorização do real em relação ao dólar e pela incerteza em torno do controle das contas públicas. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) está em 4,24% nos últimos 12 meses, próximo ao teto da meta de inflação, o que preocupa os analistas.
A economista Thaís Zara, da LCA Consultores, explicou que a inflação está “desancorada” — ou seja, as expectativas futuras se distanciam da meta, o que tende a agravar a própria inflação. Para tentar controlar esse cenário, o BC pode elevar os juros, mostrando um “cuidado ativo” para garantir que as expectativas de inflação não fujam do controle.
Impactos globais e para o Brasil
A decisão do Fed de cortar os juros pode beneficiar economias emergentes como o Brasil. Juros mais baixos nos EUA tendem a estimular a entrada de dólares em outros países, melhorando o câmbio e aliviando as pressões inflacionárias. Isso pode fortalecer o real, que atualmente está desvalorizado em torno de R$ 5,60.
Se o dólar cair, isso também ajuda a reduzir a inflação no Brasil, pois muitos insumos e produtos importados têm preços atrelados à moeda americana. Segundo Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, “o início de um afrouxamento de juros nos EUA deve pressionar o câmbio para baixo, o que seria positivo para a inflação brasileira”.
Para o Brasil, no entanto, a alta dos juros internos visa preservar a confiança no controle da inflação. O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC precisará equilibrar a necessidade de ancorar as expectativas inflacionárias sem prejudicar a atividade econômica, que apresenta bons resultados.
Assim, enquanto os EUA seguem um caminho de relaxamento monetário, o Brasil pode estar entrando em um período de cautela, ajustando as taxas para combater a inflação. As decisões desta Superquarta, tanto do Fed quanto do BC, terão repercussões importantes para os mercados globais e domésticos nos próximos meses.