A possibilidade de novas tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem gerado preocupação na indústria brasileira. Embora a chegada de produtos chineses ao Brasil possa inicialmente reduzir os preços para os consumidores, a longo prazo, a falta de regulamentação pode impactar negativamente a economia e a indústria nacional.
A crescente tensão comercial entre EUA e China voltou a ganhar força com o anúncio de Trump sobre a aplicação de uma tarifa adicional de 10% sobre produtos chineses importados pelos EUA. Em resposta, a China também anunciou taxas mais altas para produtos americanos. Segundo especialistas, esse atrito pode levar a China a intensificar sua relação comercial com outros países, como o Brasil.
Impactos para a Indústria Brasileira
O aumento da presença de produtos chineses pode trazer benefícios imediatos para os consumidores, reduzindo custos e ampliando a oferta de produtos acessíveis. No entanto, representantes da indústria alertam para o impacto negativo sobre a produção local. De acordo com Flávio Roscoe, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), a China pratica preços muito abaixo dos valores de mercado, o que prejudica a indústria nacional.
Setores como a indústria de máquinas e equipamentos, têxtil e automobilística seriam os mais afetados. José Velloso, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), destaca que o setor já enfrenta dificuldades, com queda no faturamento e aumento das importações de produtos chineses. No setor de máquinas e equipamentos, por exemplo, houve uma retração de 8% no faturamento em 2024, enquanto as importações cresceram 10%, sendo que as compras de produtos chineses aumentaram 33%.
O setor têxtil também tem sido afetado, como evidenciado pela polêmica do “imposto das blusinhas”, que visava regular a concorrência com plataformas estrangeiras. Para Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), o aumento das tarifas dos EUA pode intensificar a concorrência desleal e comprometer a produção nacional.
Impacto na Taxa de Câmbio e na Economia
Outro efeito da guerra comercial entre EUA e China é o fortalecimento do dólar. Com o aumento das tarifas, os custos de produção para indústrias que dependem de importação de matérias-primas sobem, impactando a inflação e os juros no Brasil. O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Marcio de Lima Leite, alerta que a incerteza comercial pode afetar o setor automobilístico, reduzindo o acesso ao crédito e impactando as vendas.
Impacto Macroeconômico e Perspectivas
A longo prazo, a maior presença de produtos chineses pode levar à desindustrialização do Brasil, resultando em demissões e perda de investimentos. José Velloso, da Abimaq, destaca que setores como o de fabricação de geradores eólicos já enfrentam redução significativa na produção. Para mitigar esses efeitos, a indústria defende uma política de competitividade mais assertiva para aumentar a presença do Brasil no mercado internacional.
Diante da incerteza econômica global, especialistas sugerem que o Brasil busque oportunidades para estreitar relações comerciais com outros países e fortalecer sua indústria. Como destaca Marcio de Lima Leite, é essencial manter a calma e avaliar estratégias que permitam ao país se tornar mais competitivo no cenário global.