Temperatura mundial ultrapassa 1,6°C: entenda o que isso significa para o clima

O planeta está mais quente do que nunca. Em 2024, o mundo registrou um aumento médio de 1,6°C em relação aos níveis pré-industriais, ultrapassando o que especialistas definem como limite seguro para o equilíbrio climático. Esse marco representa um alerta global sobre os riscos do aquecimento e suas consequências, com impactos que já podem ser sentidos, especialmente em países tropicais e subdesenvolvidos como o Brasil.

Por que 1,6°C é tão preocupante?

O Acordo de Paris, firmado em 2015, estabeleceu que o limite ideal para evitar os piores efeitos das mudanças climáticas seria um aumento de 1,5°C. Entretanto, as emissões de gases de efeito estufa (GEE), como dióxido de carbono, continuaram a crescer devido à queima de combustíveis fósseis, desmatamento e atividades industriais. A marca de 1,6°C foi atingida em 2024, décadas antes do previsto, e aproxima perigosamente o planeta do patamar de 2°C, considerado catastrófico.

Carlos Nobre, climatologista e referência mundial em estudos sobre mudanças climáticas, alerta que estamos em um “caminho de colapso” se as emissões não forem drasticamente reduzidas. “Se atingirmos 2°C, será um suicídio ecológico,” afirma.

Impactos globais e locais

O aumento de temperatura não afeta todos os países de forma igual. Regiões tropicais, como o Brasil, estão entre as mais vulneráveis a extremos climáticos. O ano de 2024 foi marcado por eventos devastadores, como:

  • Chuvas intensas: Enchentes que destruíram cidades no Rio Grande do Sul e tempestades históricas na Espanha.
  • Secas extremas: O Norte do Brasil enfrentou sua pior estiagem, com rios secando e isolando comunidades inteiras.
  • Incêndios florestais: Recordes de queimadas no Brasil, que cobriram o país de fumaça por meses.
  • Furacões e tempestades: A pior temporada já registrada nos Estados Unidos.
  • Perdas humanas: Centenas de vidas foram perdidas na África devido a enchentes que transformaram paisagens desérticas.

Segundo José Marengo, pesquisador do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), o Brasil experimenta uma combinação perigosa de extremos climáticos. “Passar desse patamar é como cair de um penhasco alto,” alerta Marengo.

O Brasil sob o calor extremo

Dados do Cemaden mostram que, nos últimos 80 anos, regiões do Brasil ficaram até 2,2°C mais quentes. O Pantanal foi o bioma mais afetado, com aumento recorde de temperatura, seguido pela Mata Atlântica e pelo Cerrado. Além disso, 2024 trouxe a pior seca da história recente, afetando a maior bacia hidrográfica do mundo, enquanto o Sul enfrentou enchentes devastadoras.

Esses extremos não afetam apenas o meio ambiente, mas também a economia. Estima-se que as perdas financeiras com a seca na região Norte tenham alcançado R$ 2 bilhões em 2024. Entre 2011 e 2023, o governo federal gastou cerca de R$ 485 bilhões em desastres naturais.

O que está sendo feito – e o que ainda falta fazer

Apesar dos alertas, a transição energética global tem sido lenta. A COP30, que será realizada no Brasil, é vista como um momento crucial para reforçar compromissos climáticos. No entanto, especialistas como Paulo Artaxo, membro do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU), destacam que as metas atuais são insuficientes. “Os desafios do Brasil são enormes, e precisamos agir rapidamente para evitar um colapso,” afirma.

O Brasil anunciou que pretende reduzir entre 59% e 67% das emissões até 2035, mas organizações como o Observatório do Clima argumentam que o país deveria mirar uma redução de 92%. Atualmente, o Brasil é o sexto maior emissor de gases de efeito estufa do mundo.

Futuro em risco

Caso a temperatura média global alcance os 2°C, especialistas preveem que algumas regiões no Brasil podem ficar até 4°C mais quentes, o que tornaria o calor insuportável e os desastres climáticos mais frequentes. Para evitar esse cenário, é urgente reduzir as emissões e investir em energias renováveis.

Carlos Nobre reforça que 2024 é um alerta definitivo: “Estamos ultrapassando limites e colocando em risco nosso futuro. Ainda há tempo, mas o relógio está correndo.”

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