Trump ameaça aumentar tarifas sobre o Brasil: Estratégia protecionista ou retórica política?

A recente declaração de Donald Trump sobre a possibilidade de aumentar as tarifas sobre os produtos brasileiros, a partir de 2025, reacendeu o debate sobre as políticas comerciais do futuro presidente dos Estados Unidos e seus impactos para a economia brasileira. Em sua primeira coletiva de imprensa após a vitória nas eleições de 2024, Trump afirmou que, a partir de 2025, tomará uma abordagem mais “recíproca” em relação às tarifas impostas por países como Índia e Brasil, sugerindo que cobrará os mesmos impostos sobre os produtos exportados para os Estados Unidos.

“Se eles querem nos cobrar, tudo bem, mas vamos cobrar a mesma coisa”, disse o presidente eleito, referindo-se à imposição de tarifas comerciais por esses países. A declaração causou alvoroço no setor produtivo brasileiro, especialmente entre os exportadores, que temem um impacto negativo nas vendas para o mercado norte-americano, um dos principais destinos das exportações do Brasil.

Estratégia conhecida de Trump

Para analistas, a ameaça de Trump é parte de uma estratégia protecionista mais ampla que o republicano tem utilizado desde o seu primeiro mandato. A postura de Trump tem se caracterizado por um estilo “transacional”, no qual ele utiliza ameaças de tarifas mais altas como forma de pressionar seus parceiros comerciais a aceitar acordos mais vantajosos para os Estados Unidos.

Em 2018, Trump já havia adotado uma medida semelhante, elevando tarifas sobre o aço e o alumínio importados, incluindo produtos brasileiros. Após intensas negociações, os dois países firmaram um acordo de cotas para a importação desses materiais, que impôs limites à quantidade de exportação, mas evitou a imposição de tarifas altas.

“É uma tática comum de Trump. Ele utiliza a ameaça de tarifas para pressionar por um acordo mais favorável. O objetivo é garantir que os EUA saiam ganhando nas negociações comerciais”, explica Welber Barral, ex-secretário do comércio exterior e especialista em relações internacionais.

Efeitos potenciais para a economia brasileira

Embora a fala de Trump tenha gerado preocupação no setor produtivo, especialistas alertam que uma elevação substancial de tarifas poderia ter efeitos prejudiciais tanto para as empresas brasileiras quanto para as americanas. O Brasil exporta uma série de produtos, como soja, carne, açúcar e produtos siderúrgicos, para os Estados Unidos. Porém, muitos desses produtos são também fundamentais para indústrias norte-americanas, o que poderia resultar em um “efeito boomerang”, afetando negativamente as próprias empresas dos EUA.

Rodrigo Leite, professor de finanças da UFRJ, lembra que, embora as tarifas possam prejudicar as exportações brasileiras, a principal consequência para o Brasil pode ser o impacto no câmbio. “Com um dólar mais forte, os custos de importação aumentam no Brasil, o que pode elevar os preços de produtos estrangeiros. Além disso, a valorização do dólar pode incentivar os produtores a focar mais nas exportações do que no abastecimento do mercado interno”, explica.

Brasil, Índia e os BRICS: uma relação mais tensa com os EUA?

Outro fator que pode influenciar as atitudes de Trump é o crescente papel do Brasil e da Índia nos BRICS. O presidente eleito dos EUA já havia ameaçado aplicar tarifas de 100% sobre as exportações de países que se unissem para criar uma moeda alternativa ao dólar. A recente defesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de um sistema de pagamentos entre os membros do BRICS sem a necessidade do dólar poderia ter alimentado as tensões comerciais com os Estados Unidos.

Essa possível retaliação faz parte da estratégia de Trump de promover uma política externa que busca manter a hegemonia do dólar no comércio global. “Ao contrário da sua postura agressiva com a China, Trump também parece estar direcionando sua retórica para outros países que buscam fortalecer suas economias em plataformas multilaterais, como o BRICS”, observa Leite.

O futuro das negociações comerciais

Embora Trump tenha dado sinais de que a tarifa recíproca poderia afetar as exportações brasileiras, não há uma confirmação oficial sobre quando ou como isso seria implementado. O impacto real dessa política dependerá de uma série de fatores, incluindo negociações diplomáticas e as dinâmicas do Congresso dos EUA, que ainda teria que ratificar algumas das medidas mais pesadas.

Além disso, como destaca Welber Barral, a imposição de tarifas mais altas pode não ser uma solução eficaz a longo prazo, pois as tarifas nem sempre geram os resultados esperados. “Trump tem uma visão simplificada sobre comércio, sem considerar que muitas vezes a elevação de tarifas pode prejudicar as próprias empresas norte-americanas, que dependem das importações para abastecer suas cadeias produtivas”, afirma Barral.

O cenário ainda é incerto, mas a possível escalada nas tarifas comerciais entre Brasil e Estados Unidos será um dos pontos de maior atenção para o setor econômico nos próximos anos. Como em muitas das negociações de Trump, a chave pode estar na forma como o governo brasileiro responderá a essas ameaças e buscará evitar danos a suas exportações.

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