Presidente afirma que pode remover Powell, apesar de limitações legais; especialistas alertam para riscos à credibilidade da instituição
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a criticar publicamente o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, e afirmou nesta semana que, se decidir pedir sua saída, “ele sairá de lá muito rápido”. A declaração gerou reações imediatas de especialistas e reacendeu o debate sobre a importância da independência do banco central norte-americano.
Apesar das falas de Trump, o presidente dos EUA não possui autoridade direta para demitir o chefe do Fed. A legislação americana prevê que o titular do banco central só pode ser removido por justa causa, ou seja, mediante comprovação de conduta inadequada ou violação grave durante o exercício do cargo.
Ainda assim, Kevin Hassett, assessor econômico da Casa Branca, declarou na sexta-feira (18) que Trump e sua equipe estão “estudando” as opções legais disponíveis. “Estamos analisando as possibilidades”, afirmou em entrevista a jornalistas.
O próprio Powell, por sua vez, já afirmou que não pretende renunciar ao cargo e que pretende concluir seu mandato, que se estende até maio de 2026. “A lei é clara. Eu não sairei se o presidente pedir”, afirmou o dirigente.
As críticas de Trump a Powell ganharam força após declarações do presidente do Fed sobre os impactos da política tarifária da atual administração. Em pronunciamento na quarta-feira (16), Powell disse que as novas tarifas impostas pelo governo superaram as expectativas do banco central, mesmo nos cenários mais extremos, e que a guerra comercial pode dificultar o controle da inflação e a estabilidade econômica.
No dia seguinte, Trump respondeu com ataques diretos à atuação de Powell, acusando-o de agir com lentidão e tomar decisões equivocadas. O presidente também voltou a pressionar por cortes nas taxas de juros, medida que, segundo ele, estimularia a economia.
A importância da independência do Fed
Fundado com o objetivo de promover estabilidade econômica e financeira, o Federal Reserve é uma instituição com autonomia garantida por lei. Seus dirigentes são indicados pelo presidente da República, mas sua nomeação depende da aprovação do Senado. Cada mandato dura quatro anos, independentemente do ciclo presidencial.
A independência do banco central é considerada fundamental para evitar que decisões de política monetária, como a definição da taxa de juros, sejam influenciadas por interesses políticos de curto prazo. “É muito importante o Fed ser independente porque é a instituição responsável por olhar para a economia de um jeito técnico”, explica o analista de investimentos Vitor Miziara.
Segundo ele, cortes artificiais nas taxas de juros podem gerar crescimento imediato, mas tendem a aumentar a inflação e desequilibrar a economia a médio e longo prazo. “A conta sempre chega lá na frente”, afirma.
Especialistas alertam que qualquer tentativa de interferência direta na presidência do Fed poderia abalar a credibilidade da instituição e trazer incertezas ao mercado. “O prestígio do Fed como o banco central mais poderoso do mundo vem justamente de sua capacidade de agir sem pressões políticas”, observou uma fonte consultada pela agência Reuters.
Trump nomeou Powell para a presidência do Fed em 2018, durante seu primeiro mandato. Em 2022, o nome de Powell foi reconduzido ao cargo pelo então presidente Joe Biden.
Até o momento, não há sinal de que um processo formal para remoção de Powell esteja em andamento. No entanto, o episódio reforça o cenário de tensão entre o governo e o banco central e deve continuar a influenciar os rumos da política monetária dos EUA.