Nesta terça-feira (19), a Ucrânia realizou seu primeiro ataque ao território russo com mísseis ATACMS, fornecidos pelos Estados Unidos. Segundo o Ministério da Defesa russo, foram lançados seis mísseis em direção à região de Bryansk, no sudoeste da Rússia, próxima à fronteira com a Ucrânia. Cinco mísseis foram interceptados, e o sexto foi parcialmente destruído, causando apenas um incêndio menor, sem vítimas ou danos estruturais significativos.
O ataque marca uma escalada no conflito, que já ultrapassa 1.000 dias sem perspectivas de resolução, e foi confirmado por fontes do governo dos EUA e do Exército ucraniano à agência Reuters. Até o momento, Kiev não se pronunciou oficialmente sobre o caso, mantendo sua política de silêncio em relação a operações realizadas em solo russo.
Escalada de tensões e flexibilização do uso de armas nucleares
A Rússia classificou o uso dos mísseis ATACMS como uma “ingerência direta” dos Estados Unidos no conflito. Em resposta, o presidente Vladimir Putin assinou um decreto que flexibiliza as condições para o uso de armas nucleares. A nova doutrina autoriza ataques nucleares em caso de ameaças críticas à soberania ou integridade territorial da Rússia ou de Belarus, mesmo que sejam provocadas por armas convencionais.
Anteriormente, a doutrina russa previa o uso de armas nucleares apenas em caso de um ataque nuclear ou de uma ameaça direta à existência do Estado. O Kremlin justificou a mudança como uma “resposta necessária” ao que considera uma escalada promovida pelo Ocidente.
Mudança de postura dos EUA e apoio à Ucrânia
A autorização para que a Ucrânia utilizasse os mísseis ATACMS foi concedida pelo presidente Joe Biden no último domingo (17), segundo o The New York Times. Desde o início do conflito, Washington havia restringido o uso de armamentos de longo alcance para evitar uma escalada. A mudança ocorre poucos meses antes de Biden deixar a Casa Branca e reflete o crescente envolvimento dos Estados Unidos no apoio à Ucrânia, em meio à aliança militar entre Rússia e Coreia do Norte.
O envio de tropas norte-coreanas para apoiar a Rússia teria sido um dos fatores que motivaram a decisão americana. Estima-se que entre 10 mil e 12 mil soldados norte-coreanos já estejam na Rússia, com esse número podendo chegar a 50 mil até o final do ano, de acordo com autoridades da Coreia do Sul e da OTAN.
Impacto no cenário global
O chanceler russo, Sergey Lavrov, afirmou em uma coletiva no Rio de Janeiro, durante a cúpula do G20, que o ataque é “um claro sinal de que o Ocidente busca uma escalada na guerra”. Parlamentares russos alertaram que a decisão dos EUA de permitir ataques ao território russo pode levar a um conflito global.
Enquanto isso, a Europa e outros aliados da Ucrânia continuam a reforçar o apoio financeiro e militar. Recentemente, o presidente francês Emmanuel Macron indicou que considera enviar tropas francesas ao país, uma medida que foi veementemente criticada por Putin.
O futuro do conflito
Com as tensões em alta, a guerra entra em uma nova fase de imprevisibilidade. Especialistas temem que a crescente participação de aliados da Ucrânia e da Rússia, como a Coreia do Norte, possa transformar o conflito em um confronto de escala global. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, apresentou um “plano de vitória” no mês passado, mas detalhes sobre sua implementação permanecem incertos.
A decisão de Biden de liberar o uso de mísseis de longo alcance é vista como um divisor de águas, mas também como um movimento arriscado, que pode provocar respostas mais agressivas de Moscou. Enquanto isso, o mundo observa com apreensão os próximos desdobramentos de um conflito que já redefiniu a geopolítica global.